terça-feira, 19 de julho de 2011

My Life Without Me (2003)


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A Minha Vida Sem Mim de Isabel Coixet é uma co-produção espanhola-canadiana que conta com um diversificado leque de actores onde se destacam Sarah Polley, Scott Speedman, Maria de Medeiros, Mark Ruffalo, Deborah Harry, Leonor Watling e Amanda Plummer.
Todo este brilhante filme gira em torno de Ann (Polley) uma jovem mãe de duas filhas, casada e que vive num atrelado nas traseiras da casa da sua própria mãe. Ann trabalha de noite como mulher de limpezas numa Universidade onde nunca irá estudar e vive uma vida longe daquilo que poderia ser o que ambiciona.
Abdicou de sonhos, de projectos, de ideias e de viver uma vida com que muito brevemente poderia ter sonhado. Até um dia.
Após se ter sentido mal e ter ido ao hospital descobre que tem um cancro e que não tem mais do que dois ou três meses de vida. Ann decide que tem então de preprar toda a sua vida, até então adormecida, e planear um futuro que já não será o seu. Tem de pensar em Don (Speedman) o marido e na possibilidade de lhe encontrar outra mulher. Tem de visitar o pai (Alfred Molina), fazes a reconciliação com a mãe (Harry), mudar o penteado (entra em cena Maria de Medeiros) e fazer alguém apaixonar-se por si (trabalho a cargo de Mark Ruffalo).
Esta brilhante história adaptada ao grande ecrã por Isabel Coixet, aquela que considero já ser uma brilhante mestre das emoções humanas, concentra as suas intenções em mostrar como alguém se anulou perante a vida e o mundo e que face a uma fatalidade decide novamente voltar a viver e a experienciar todo um conjunto de situações e sentimentos que estavam, até então, totalmente adormecidas e longe do seu imaginário.
Poderíamos pensar que graças a este despertar para a vida e para o mundo faria deste filme algo que nos deixasse bem e com um espírito mais positivo face ao que nos rodeia. Bem pelo contrário. Mi Vida sin Mi, como eu gosto de lhe chamar, não sendo um filme obrigatoriamente triste é, no entanto, profundamente melancólico e reflexivo na medida que desperta em nós próprios a ideia de o que aconteceria se "amanhã" percebessemos que poderemos estar a viver os últimos instantes da nossa vida. O que é que deixámos por fazer? A quem é que deixámos de dizer "amo-te"? Onde é que acabámos por não ir? O que é que não experimentámos comer... beber... fazer... ver (...).
E, ao mesmo tempo, faz-nos pensar naquelas pequenas situações em que gastamos tanto do nosso precioso tempo sem qualquer razão ou sentido em vez de colmatarmos aquelas pequenas falhas que nós próprios sabemos e conhecemos onde se encontram.
Justo vencedor de dois Goya para Canção Original e para Argumento Adaptado e muito bem recompensado com duas nomeações aos European Film Awards para Filme e Realizadora, este filme consegue destacar-se pelo despertar para a Humanidade e para o que nos rodeia e que deixamos, por um ou outro motivo, por fazer ou realizar à medida que os anos passam por nós. Factos esses aos quais só voltamos a dar importância em momentos que se afirmam como de mudança ou de término por esta nossa breve, por vezes breve demais, passagem.
Mas há esperança. Há sempre esperança, e o próprio título assim o indica. A Minha Vida sem Mim pressupõe que tudo continua num ciclo sem fim e que de uma ou outra forma as experiências que ficam por completar por uns serão, de uma ou outra forma, completadas por outros, perpetuando assim o sentido da vida daqueles que partem.
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"Dr. Thompson: Dying is not as easy as it looks, you know, but there's no need for you to have to feel terrible all the time."

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Brilhante a realização e o argumento de Isabel Coixet que se afirma cada vez mais no cinema espanhol com uma qualidade irrepreensível e que sem fazer verter lágrimas consegue ser um filme emotivo e triste mas, ao mesmo tempo, deixar uma réstia de esperança que aqueles que ficam depois de partirmos irão ficar com um rumo onde "nós" conseguimos deixar a nossa marca.
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"Ann: Alone. You're alone. You've never been so alone in your whole life."
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8 / 10
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