terça-feira, 13 de setembro de 2011

Stake Land (2010)

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Stake Land de Jim Mickle filme de encerramento do MOTELx 2011 é muito mais do que um simples filme de terror com vampiros.
Martin (Connor Paolo) e Mister (Nick Damici) viajam por uma paisagem desolada por um apocalipse sócio-económico e que transformou boa parte da população numa praga de vampiros sedentos de sangue humano para sobreviver.
Mas não são só os vampiros que ameaçam a segurança dos que se aventuram em viagem. Vários gangs raciais e grupos armados espalham também eles o terror de forma a manterem o controlo sobre grandes áreas terrestres e assim ameaçarem a passagem daqueles que querem chegar ao Canadá, o Novo Eden como é agora chamado.
Este filme que era para mim aquele que mais aguardava de toda a programação do MOTELx 2011 foi uma agradável surpresa em todas as frentes. Em primeiro lugar porque esperava acima de tudo mais uma história da caça e fuga aos vampiros que dominavam o planeta de uma forma sanguinária e aquilo que tive foi o oposto. Esta história relega os vampiros quase para um segundo plano evidenciando antes a componente humana das relações entre aqueles que sobrevivem e esperam algo mais para as suas vidas. Para aqueles que sonham e ambicionam algo de melhor.
As dinâmicas que as várias personagens criam são de facto excelentes e quase nos esquecemos que existe um perigo à espreita para pensarmos apenas que numa dura situação onde o mundo que conheceram um dia já não existe e agora têm de criar novos laços e ligações com pessoas que numa situação normal nem sequer quereriam cruzar o mesmo caminho. E ali estão eles unidos num apoio que rapidamente se transforma num alicerce semelhante àquele que encontramos numa família.
A dinâmica e a química existente entre estas personagens e estes actores consegue ser bastante credível e convincente como se de uma "road-trip" pós-apocalíptica se tratasse na realidade.
A dar corpo e alma a estas personagens temos um conjunto de actores mais ou menos desconhecidos onde a cara mais "cinematográfica" é a de uma muito transformada Kelly McGillis de quem todos se devem recordar do Top Gun e d'Os Acusados, a interpretar uma freira num mundo sem religião capaz de salvar as almas dos mais crentes.
No entanto há sim uma alma neste filme através de Connor Paolo que interpreta "Martin", o rapaz que assistiu à morte dos seus pais e irmão às mãos de um vampiro, consegue ser aquele que une este grupo de estranhos ao longo da viagem que fazem por uns Estados Unidos devastados. As suas reflexões sobre o mundo em que agora vivem e as transformações a que se viram sujeitos são dignos de transportar para este filme de terror uma carga dramática que em muitos aspectos nos pode deixar a nós espectadores pensar no quão idênticas são algumas das situações a que assistimos, retirando obviamente o lado fantasioso de vampiros que andam à caça do próximo pescoço.
Para um filme de terror, suspense e clima pós-apocalíptico ele está com interpretações grandes e superiores à grande maioria daquelas a que assistimos neste género específico de filme.
Não posso igualmente deixar de referir o excelente desempenho de Michael Cerveris como líder de um grupo sem religião e muito menos moral que destrói, corrompe e elimina todos aqueles que lhes fazem frente numa razia não só psicológica como física. E não pense o comum espectador que este filme vê dele pouco... As surpresas só terminam quando os créditos começam...
A banda-sonora, em muitos segmentos semelhante a várias passagens d'A Estrada, é brilhantemente composta e enquadrada por Jeff Grace que não se limita aos lugares comuns de um filme de terror mas fá-los evoluir para um conjunto de sonoridades reflexivas e emotivas.
Mas nem só de graciosidade ou reflexão este filme é feito. Na sua essência é, claro está, um filme de terror e é nessa perspectiva que também o temos de encarar. E também aqui não falha. Todos os momentos que podemos começar a achar de agradáveis e que mostram o lado humanos dos "homens" é abalado quando menos esperamos, e os vampiros de que todos fogem, rapidamente aparecem para dar um ar da sua (pouca) graça.
A devastação criada não só pela tal crise não anunciada que devastou o planeta como é também agora provocada por uma população vampirizada é perfeitamente reflectida nos cenários devastados pelos quais toda a acção do filme decorre. Cenários desolados, casas abandonadas, bloqueios de estrada e a falta de ligações a lugares ou pessoas são recorrentes durante todo o filme.
Para mim este original filme consegue de uma forma harmoniosa unir dois géneros distintos sem que um se sobreponha ao outro. Existe momentos e espaço para os dois. Drama e terror. Humanos e vampiros. Esperança e morte. Tudo em doses bem equilibradas conseguem fazer deste um dos melhores filmes de terror a que assisti em muito tempo sem com isso cair nos lugares comuns do terror onde apenas predominam um conjunto de mortes e sangue sem que seja baseado ou fundamentado com uma história profundamente humana. Simplesmente genial.
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9 / 10
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