terça-feira, 8 de maio de 2012

Albert Nobbs (2011)

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Albert Nobbs de Rodrigo García é aquele filme que podemos apelidar do coração para Glenn Close, a sua actriz principal que além do interpretar escreveu a adaptação, produziu e do qual detinha os direitos há já trinta anos.
Glenn Close, nesta interpretação que lhe valeu a sexta nomeação a um Oscar, dá corpo e alma a Albert Nobbs, numa Irlanda do século XIX onde as mulheres não são de forma alguma encorajadas a ter uma vida independente. Assim, Albert trabalha enquanto homem e mordomo num dos hóteis mais requisitados de Dublin garantindo assim a sua sobrevivência e subsistência mesmo que para isso tenha de ocultar de todos a sua verdadeira identidade.
Tudo muda para Albert quando chega ao hotel Hubert Page (Janet McTeer), um pintor com os seus próprios segredos e que lhe irá mostrar as alternativas que poderá ter para encarar a sua vida, e a sua própria existência, com outros olhos.
Este extraordinário filme assenta essencialmente na já referia interpretação de Glenn Close. Repleta de um humanismo extremo que assenta na vontade de sobrevivência e de uma dignidade que, apesar de escondida não está esquecida, sente-se perfeitamente que Glenn Close tem um fogo e um carisma inatos que fazem desta uma das suas mais fortes e dedicadas interpretações não dos últimos anos mas de toda uma carreira. A sua composição enquanto Albert Nobbs é profundamente sentida e genuína. Através do seu olhar sentimos uma clara convicção que todo aquele medo, esperança e determinação se encontram por detrás daquele olhar tão receptivo a um mundo novo ao qual sente não ter direito devido à sociedade em que se encontra, mas que anseia com ainda mais convicção. Esta sua interpretação que lhe valeu nomeações para todos os prémios da última temporada, inclusivé ao Oscar que não venceu, não deixa se ser não só uma das suas mais fortes como uma das mais firmes de todo o último ano. Glenn Close regressou ao cinema, e regressou em força (espero que para continuar).
O mesmo se pode dizer da comovente interpretação de Janet McTeer que não estava com tanto protagonismo desde o seu Tumbleweeds, e que enquanto Hubert Page nos revela uns revigorantes e profundamente dramáticos momentos cinematográficos também eles carregados de um profundo humanismo.
Close e McTeer formam sem qualquer margem para dúvidas uma dupla forte e resistente que nos conseguem cativar desde o primeiro instante em que as vemos, e prova disso são as diversas reacções que temos aos seus momentos, às suas descobertas e ao seu espanto perante o mundo em que vivem e à condição a que são remetidas para poderem sobreviver. Nós estamos ali, lado a lado, a esperar que tudo lhes corra pelo melhor.
Como todo o filme de época, este Albert Nobbs não foge a certas "regras" de excelência que este género tem como é por exemplo o caso da caracterização que fora inclusivamente nomeada para Oscar e que transformam literalmente Glenn Close num homem, ou do extraordinário e rigoroso guarda-roupa de Pierre-Yves Gayraud, ou ainda a magnífica fotografia da autoria de Michael McDonough, tão carregada como o próprio ambiente austero que se vivia na época como pela própria questão da ocultação de identidade.
Identidade esta que acaba por ser a grande questão do filme. Para além da homossexualidade feminina que esta história acaba por abordar, num país onde a mulher era considerada uma propriedade dos homens com quem casavam, é a luta pela própria identidade e a luta por uma valorização de Direitos pessoais dos quais nem sequer se arriscava falar, que este filme retrata. Uma luta que, no caso das mulheres, levou ainda largas e largas dezenas de anos a travar até à sua plena igualdade para com os homens. Luta esta que levava não só à sua independência como, acima de tudo, ao seu reconhecimento enquanto géneros iguais.
Se esta luta pudesse ter uma entre tantas histórias, essa poderia muito facilmente ser a de Albert Nobbs que, a certa ponto quando questionado (questionada) sobre o sua verdadeira identidade e nome... outro não tinha senão... Albert.
Bem-vinda de volta Glenn Close... e assim que fiques cá por muitos e bons anos.
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8 / 10
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