quarta-feira, 20 de junho de 2012

Purgatório (2011)

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Purgatório de João Filipe Silva e Pedro Miguel Silva é assumidamente uma das melhores curtas-metragens que vi nos últimos tempos.
Num cenário pós-apocalíptico encontramos um individuo a escrever. Temos uma voz-off que narra o que está a ser escrito naquela carta ao som da Sétima de Beethoven.
A mensagem que nos é transmitida não só se poderá considerar como sendo de solidão, de uma solidão extrema ue se faça essa ressalva, como também de despedida. Uma carta de despedida de alguém que já não aguenta o mundo em que vive. Um mundo onde a ausência de outros seres faz sentir a profunda irrelevância de manter a própria vida.
Independentemente do próprio mundo e da natureza mostrarem os primeiros sinais de regeneração e do advento da vida, para quê continuar se não se encontra outra alma com quem o poder admirar ou partilhar os pensamentos...
O fim, por muito agreste que seja, não é comparável (para melhor) à constante certeza de que viver será infinitamente mais doloroso... O purgatório que é uma vida num mundo que tem morrido dia após dia é muito pior do que uma morte escolhida. Resumidamente, temos aqui uma perfeita carta de despedida.
A beleza fria e rude das imagens e as próprias sombras que um muito bem executado trabalho de fotografia dá a este filme, apenas poderiam ser sentimentalmente temperados ao som da extraordinária composição de Beethoven que foi escohida para dar vida a esta curta.
Independentemente da duração desta curta, o ambiente desolador e desprovido de qualquer esperança criado nela só poderia ser comparado a outro filme do género... A Estrada. Simplesmente brilhante.
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"Voz-Off: Hoje é um dia diferente... Liberto-me da escravidão da rotina (...) Opto pela incerteza do fim sobre a certeza desta monotonia solitária."
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9 / 10
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