quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

In the Cut (2003)

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In the Cut - Atracção Perigosa de Jane Campion tem como par protagonista Meg Ryan e Mark Ruffalo, secundados ainda por Jennifer Jason Leigh.
Depois do brutal assassinato de uma jovem em Nova York, Frannie Avery (Ryan), uma professora de escrita criativa, julga ser a última pessoa a tê-la visto ainda em vida e vê-se envolvida com Giovanni Malloy (Ruffalo), o detective que investiga o caso, numa relação de sedução que rapidamente se encaminha para uma tórrida relação sexual.
Aos poucos Frannie testa não só os limites da sua própria segurança quando o assassino tem as suas próprias desconfianças a seu respeito, como também inicia uma viagem de auto-descoberta e de reconhecimento daqueles que com ela têm convivido... desde as amizades do passado como também sobre aqueles a quem lecciona e que através dos seus escritos têm uma complexa abordagem para com a sua própria vida.
Vindo de uma realizadora como é o caso de Jane Campion é natural que qualquer pessoa sinta bastante curiosidade sobre este trabalho. Se pensarmos então que a protagonista é uma actriz como Meg Ryan que aqui se descolava definitivamente do papel de "namoradinha" para assumir finalmente a interpretação de uma mulher enquanto tal e não como a mãe, esposa ou companheira de alguém, o natural é que este desempenho fosse não só determinante para a sua carreira como principalmente se afirmasse como aquele marco pelo qual ela iria ficar recordada para o futuro.
De facto este filme e esta interpretação em concreto marcaram toda uma sólida carreira de Meg Ryan mas não da forma como se esperava. Habituados que estamos a encará-la como aquela actriz afectuosa capaz de entregar os mais simpáticos, cómicos e bem dispostos desempenhos, e plenamente conscientes de que esta era uma interpretação arriscada, o que é certo é que não "caiu" bem a ninguém assistir aqui a uma Meg Ryan sexualizada e erotizada, saindo assim frustradas todas as expectativas que existiam a respeito deste filme e principalmente dela.
Ryan não consegue criar nenhum tipo de empatia com o seu público nem tão pouco simpatia pelo drama desta mulher que, um dia, desperta para uma sexualidade até então reprimida. E desperta no pior dos momentos graças a um assassinato de uma pessoa que ela pensa ter visto horas antes com o respectivo assassino que não identifica. Quase como um despertar de alguém que percebe finalmente que não é eterna, não que o considerasse mas aqui ganha plena consciência disso, e que decide assim finalmente sentir prazer(es) que desconhecia. E acaba por tê-los com aquele que, mais tarde, suspeita ser o assassino.
Se interpretações existem que são arriscadas para uma actriz este é o exemplo perfeito. De uma sólida carreira e com uma legião de fãs intensa, este filme marca um certo declínio no protagonismo de Ryan que, desde então, se tem limitado a um conjunto de desempenhos secundários e que já não batem records de bilheteiras como até então. Se o filme não seduziu, ele marca também uma viragem crucial na vida pessoal da actriz (que se confundiu de muito perto com o filme), bem como um despertar de um (exigente) espectador de que já chegava de filmes de "namoradinha" mas que, no entanto... este não era o caminho ideal a seguir.
Jane Campion que enquanto mulher e realizadora soube também ela entregar fortes histórias que retratavam sociedades masculinizadas que oprimiam violentamente a mulher como o caso daquele que é provavelmente o seu maior sucesso O Piano ou mesmo Retrato de Uma Senhora tem aqui neste filme, do qual também assina em colaboração, o argumento, teve aquele que poderá ser considerado o seu maior flop, e do qual só viria a recuperar com um honesto e muito sentido retrato (novamente de uma mulher enclausurado por uma sociedade que teima em reconhecer os seus direitos ao amor) em Bright Star. Este filme que pretendia ser mais um sucesso da realizadora e argumentista neo-zelandesa e um marco positivo que marcaria uma transição da actriz acabou por funcionar de forma oposta e marcar ambas sim... mas pela negativa.
Talvez a única que tenha saído daqui menos mal foi Jennifer Jason Leigh que, igual a si mesma, interpreta mais uma mulher problemática com um passado obscuro e complicado que essencialmente se reflecte em toda a sua vida presente.
Assim, há excepção de erotizar uma Meg Ryan até então praticamente angelical e de um interessante renascimento de um género noir já pouco em voga, este filme não consegue atingir o impacto desejado nem tão pouco ser considerado das obras mais emblemáticas de Campion. Pelo menos não pela positiva como as anteriores obras mencionadas. No entanto, não restará dúvida de que marca sim uma viragem no percurso de Meg Ryan que, desde então, não recuperou aquele brilho especial que tanto nos agradava nem tão pouco tem conseguido manter uma carreira ao nível da actriz que ela é.
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4 / 10
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