domingo, 7 de abril de 2013

Infamous (2006)

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Infame de Douglas McGrath retoma, um ano depois de Capote de Bennett Miller, os dias em que o escritor norte-americano Truman Capote pesquisa para o seu livro A Sangue Frio (In Cold Blood), sobre a morte de uma família no Kansas rural às mãos de dois homens.
Quando em Novembro de 1959 o excêntrico escritor e figura do social de Nova York, Truman Capote (Toby Jones) lê no jornal sobre o assassinato de uma família no Kansas, transportando a violência das grandes cidades para um interior profundo e rural, decide que tem de viajar para a pequena localidade e aí escrever um artigo que dê a conhecer a família e os seus hábitos.
Na companhia da sua amiga de infância Harper Lee (Sandra Bullock), dirige-se para a pequena comunidade onde tenta descobrir um pouco mais sobre quem eram aquelas pessoas bem como perceber um pouco mais sobre a própria comunidade. Quando depois de travar amizade com Alvin Dewey (Jeff Daniels), o xerife da cidade, se descobrem Perry Smith (Daniel Craig) e Dick Hickock (Lee Pace), os dois assassinos, que Capote desenvolve com ambos uma relação próxima e quase afectiva com o primeiro.
A questão colocada então por Capote é que se por um lado os dois homens assassinaram aquela família a sangue frio, não é menos verdade que agora o Estado se prepara para fazer exactamente o mesmo... não estará o próprio Capote a beneficiar desta condição para com igual frieza conseguir o seu exclusivo?
Com base no romance de George Plimpton, o próprio Douglas McGrath escreveu este argumento que para além do impacto que um brutal assassinato teve numa pequena comunidade onde todos se conheciam e, de certa forma, todos começaram a desconfiar uns dos outros, ou até mesmo para além do paralelismo que se poderia pretender explorar com o dúbio título de "A Sangue Frio", este filme explora a excêntrica personalidade um um mito do social como fora Truman Capote e aqui particularmente a relação que estabeleceu com Perry Smith, um dos assassinos sobre quem pretendeu escrever. Relação essa que ultrapassou todos os limites normais que poderiam existir entre um investigador e o seu "objecto" de estudo bem como qualquer laço de amizade que poderia existir. Aqui, sem se consumar na prática, tudo indica que entre estes dois homens ao longo dos meses e dos anos em que contactaram, se estabeleceu uma relação da mais profunda cumplicidade e união sentimental que só fora interrompida primeira pela condição de aprisionamento de Smith e depois pelo seu consequente enforcamento.
A análise destas duas personagens é feita pelos mais diversos intervenientes que com Capote se cruzaram. Enquanto a descrição de Perry Smith nos chega pelos seus próprios relatos fazendo dele um homem atormentado por um passado complicado e despriviligiado que, a seu tempo, o transformou num indivíduo marcado pelo mesmo, Capote é descrito pelos seus amigos e pelo seu companheiro de longa data como sendo não só um homem excêntrico e que vivia a sua vida e o próprio mundo de uma forma muito especial mas também como alguém que, também ele, estava marcado por um passado de abandono e de solidão que o forçaram a ser alguém que conquistou o mundo à sua maneira e que por ela passou deixando uma profunda marca em todos aqueles que com ele se cruzaram acabando por, de igual forma, estar rodeado por muitas pessoas mas sempre com uma sensação de solidão que nunca o abandonou.
A dar vida a estas pessoas reais, temos um conjunto bem intenso de actores que aqui se dispersam por personagens oram principais ora secundárias sendo algumas delas meramente figurativas neste filme como acontece com uma sentida interpretação secundaríssima entregue por Gwyneth Paltrow ou até mesmo uma Isabella Rossellini e uma Sigourney Weaver que aqui são intérpretes quase decorativas. O destaque está, como seria de esperar numa sentida e bem composta interpretação de Toby Jones como "Truman Capote" que vai ao ponto de imitar a sua peculiar voz na perfeição, uma Sandra Bullock como "Harper Lee" num dos seus primeiros importantes desempenhos no cinema onde se nota uma clara vontade de se descolar das interpretações de "namoradinha da América", e claro um Daniel Craig como "Perry Smith" que mostra também ele ser algo mais do que uma "cara bonita" de Hollywood ao interpretar este homem, assassino e vilão, mas que mostra que noutras condições, noutros tempos e noutro lugar poderia ter sido alguém com um futuro diferente e mais sorridente não que com isso se desculpe o acto bárbaro que havia cometido.
Não sendo um filme que fique na nossa memória ou que tenha um grande futuro para além daquele primeiro visionamento que lhe damos, não deixa de ser uma peça de época e de momento interessante e que nos desvenda um pouco mais sobre aqueles tão macabros acontecimentos que mostraram que o crime, por mais hediondo que seja, pode estar na "porta ao lado", mas que na prática funciona apenas para os apreciadores dos factos que pretendem conhecer um pouco mais para além daquilo que fora, em tempos, divulgado.
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6 / 10
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