sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Estrela Mais Brilhante (2011)

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A Estrela Mais Brilhante de André Matos e Joana Santos é uma surpreendente e emocionante curta-metragem portuguesa de ficção que abriu a última edição do PFShortsFest.
Vasco (Miguel Mestre) é uma jovem criança que perdeu recentemente a sua mãe. Francisco (Ruben Tiago), é o seu pai e como tal tenta explicar esta súbita perda com a mais inocente das explicações... a mãe partiu para o céu para junto das estrelas.
Apaixonado pelo espaço e pelo sonho de poder alcançar as ditas estrelas, Vasco num misto de inocência e determinação típicos da sua idade, tenta então construir uma nave que o possa levar até junto delas e, como tal, poder reencontrar e resgatar a sua mãe que por ali se encontra.
O argumento escrito por Ana Rita Arruda, Sara Marques, André Matos, Andreia Santos e Joana Santos consegue de forma genial construir uma história que consegue recriar um universo pouco explorado no cinema português, ou seja, contá-la de forma a que consiga ser transmitida tanto aos mais adultos como aos mais jovens.
A história é universal e todos de uma ou outra forma já a vivenciaram e conhecem as suas consequências... a perda e a forma como lidamos com ela. Os caminhos e as defesas que todos nós criamos para nos protegermos da dor que ela pode provocar. Os espaços, os locais e a forma como temos, ou tentamos, lidar com a morte, ou o desaparecimento, visto através dos olhos de uma criança, sendo que ao mesmo tempo a vemos pelo olhar de um adulto que tem não só de a saber gerir como principalmente tem de colmatar a perda que a criança a seu cargo sente e que não consegue compreender ou filtrar da mesma forma.
Mas ele é também uma história sobre a imaginação, sobre o poder das palavras, dos sonhos, da perseverança e da vontade de atingir um objectivo mesmo que ele "apenas" sirva para poder confirmar o próprio desejo ou a impossibilidade de o concretizar, tornando-se assim numa história sobre o inesperado crescimento e o precoce amadurecimento de uma criança que vê a sua vida transformada pela perda de um dos seus entes mais queridos.
André Matos e Joana Santos dão assim vida a uma história que também eles escreveram e que nos permite para além de sonhar e acreditar no poder dos sonhos e da imaginação, perceber o como nós próprios fomos um dia, nas ideias que tínhamos sobre o mais impossível (aos olhos de hoje), e como esses próprios sonhos foram os motores que nos definiram, que nos guiaram e que nos possibilitarem viver uma época em que o mundo, ou aquilo que conhecíamos dele, era perfeito (ou não), através de um conjunto de elementos que nos fazem acreditar no poder de um "simples" filme contado com dedicação, alma e coração que aqui estão presentes em todos os segmentos, e que várias foram as ocasiões em que me fez recordar um dos meus filmes preferidos... Where the Wild Things Are de Spike Jonze.
Miguel Mestre e Ruben Tiago formam a dupla perfeita e a química entre os dois actores é uma constante que consegue cativar facilmente o espectador. O jovem Miguel Mestre que já havia demonstrado a emotividade que consegue transmitir na curta-metragem Um Dia Longo de Sérgio Graciano, volta aqui a dominar completamente o ecrã e entregar mais um sentido desempenho e empatia com a câmara que conseguem desarmar muitos mais experientes actores.
E tecnicamente esta curta-metragem é também uma óbvia referência desde a sua emotiva e cativante música original da autoria de Milton Fernandes e Sara Marques, passando pela direcção de fotografia de Ana Rita Arruda e Filipe Casimiro que conseguem durante todo o tempo manter-nos numa certa suspensão sobre o estarmos perante uma realidade trágica ou um sonho imaginado cheio de esperança num reencontro impossível.
Como última "nota" só posso agradecer ao realizador André Matos (presente na apresentação desta curta-metragem) não só por ter conseguido contar esta história de uma forma tão honesta e totalmente livre de pretensões e pela forma calorosa com que dela falou conseguindo assim não só pelas imagens captadas mas como pelo seu discurso conquistar todo o público presente. Eu pelo menos fui um deles. 
E se existe arte no cinema, aqui estamos perante um desses exemplos, e espero muito pacientemente que esta dupla de realizadores apresente muito em breve os seus próximos projectos.
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"Vasco: Há uma estrela que é mais brilhante do que as outras."
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10 / 10
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