sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Dia Mais Feliz da Tua Vida (2012)

.
O Dia Mais Feliz da Tua Vida de Adriano Luz é uma das curtas-metragens nomeadas para os Sophia da Academia Portuguesa de Cinema e já nomeada para os Caminhos do Cinema Português em Coimbra nos conta a história de um casal que vê não só a sua felicidade como o seu futuro ameaçados devido à doença que assola Afonso (Miguel Borges).
Marta (Carla de Sá) vive num silêncio constante que espelha o seu desgaste e falta de expressividade face à situação como também as rotinas que insistem em ser uma presença constante.
Quando a perda parece uma certeza ambos lidam com ela da forma que acham ser menos dolorosa para o seu futuro, ou falta dele, e enquanto Afonso sugere que Marta deveria refazer a sua vida com Carlos (Romeu Costa), o homem que semanalmente lhes leva as mercearias, ela distancia-se de toda a situação como forma de sobreviver a uma vida que involuntariamente a enclausurou e escreve como única forma de se abstrair da dura realidade que vive.
Esta surpreendente curta-metragem de Adriano Luz leva-nos numa viagem à vida de um casal que em tempos se amou mas que se prepara agora para ver a sua vida em comum interrompida não pela separação sentimental que os uniu mas sim pela doença que teima em debilitar cada vez mais um deles. Os sucessivos planos interrompidos permitem-nos perceber que o espaço temporal é longo e, como tal, fatigante e debilitante para "Afonso" e psicologicamente agudizante para "Marta" que, como defesa, se distancia afectivamente do marido.
Sendo esta a sua única forma de protecção contra aquilo que parece inevitável, também ele tem os seus próprios planos para melhor poder suportar o afastamento da sua mulher insistindo que esta inicie uma relação sentimental, afectiva e sexual com "Carlos", que semanalmente os visita pelos recados que lhes faz. A separação aos poucos define-se em todos os níveis e transforma o momento final aparentemente mais fácil de suportar apesar de aos poucos os consumir nos seus sentimentos, obrigando o espectador a fazer uma comparação entre a dor psicológica e a dor física ou, por outras palavras, sobre como a primeira funciona como uma influência directa para a manutenção da última.
Se Carla de Sá nos entrega uma interpretação sólida como a mulher distante por opção que encontra assim a sua força e defesa contra a morte do homem que ama, Miguel Borges demonstra uma vez mais ser um actor maior que com as personagens certas nos entrega intensas interpretações que nos fascinam e emocionam.
Destaco ainda a direcção de fotografia de André Szankowski que através das suas sombras relata uma alma que se prepara para desaparecer fazendo o espectador entrar num ambiente pesado e dolorosa onde a morte e a doença habitam em harmonia com os seus detentores.
.

.
"Afonso: Sabias que somos o único mamífero que depois de adulto continua a beber leite?"
.
7 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário