quarta-feira, 2 de abril de 2014

Choses Secrètes (2002)

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Coisas Secretas de Jean-Claude Brisseau, também autor do argumento, e que aqui nos conta a história de Sandrine (Sabrina Seyvecou) e de Nathalie (Coralie Revel), duas jovens mulheres que tenta sobreviver na Paris moderna.
Através de uma narração feita por Sandrine assistimos à forma como estas duas mulheres inicialmente se conheceram e o percurso que estabelecem juntas para poder não só conseguir uma vida digna na capital francesa mas também fazerem dessa forma como que todos os homens com quem se cruzem caírem numa condição ridícula face ao poder que julgam ter na sociedade em que co-habitam.
Quando encontram trabalho num importante escritório da cidade, Sandrine e Nathalie pensam ter conseguido descobrir uma mina de ouro, no entanto quando conhecem Christophe (Fabrice Deville), o jovem dono da empresa que revela ter a sua própria agenda, tudo muda radicalmente.
Jean-Claude Brisseau, realizador de filmes como À l'Aventure e Les Anges Exterminateurs iniciou com este Choses Secrètes um conjunto de obras na sua cinematografia na qual a sexualidade feminina é não só o tema central como aquele do qual usa e abusa sem limites quase como um relato voyeurista que roça de muito perto o desnecessário.
Em todas as referidas obras o espectador é levado numa viagem de exibição sexual que parece não ter um fim ou um propósito específicos. O corpo é para Brisseau uma arma de trabalho por si só. A sua arma considerando que realiza obras de aproximadamente duas horas cada onde o espectador assiste a um longo conjunto de momentos em que as suas actrizes se exibem das mais variadas formas e nos mais variados locais e a das próprias personagens pois é através do sexo e não de qualquer outro tipo de competência que estas (sobre)vivem, esquecemos se o fazem por prazer, necessidade ou um misto de ambas), e persistem numa sociedade onde o prazer carnal é uma forma de vencer na vida (talvez a única), umas vezes por si só e outras pela humilhação que pode provocar àqueles que de mais ou menos perto a ele assistem.
Brisseau vai mais longe ao revelar que toda a demais história é quase um apêndice (ir)relevante de toda a trama. O importante no seu olhar é apenas e só os momentos em que as duas actrizes entram numa espiral exibicionista obrigando o espectador a tornar-se num voyeur (in)voluntário que para ter um visionamento feito tem de atravessar toda uma penosa performance sexual pouco abonatória para o filme e que oscila entre o consensual, a humilhação e a depravação.
Não sou contra qualquer tipo de sexualidade no cinema e julgo que este é um bom meio de passagem de informação e de exemplificação do mundo em que vivemos e Choses Secrètes consegue aproximar-se desse propósito quando nos dá o retrato de um patrão no bar que quer que as suas empregadas façam mais do que servir bebidas ou mesmo na forma como se ascende socialmente à custa da chantagem e de esquemas menos lícitos. No entanto também considero que o mero retrato exibicionista vs. voyeurista que todas as suas obras fazem questão de relatar começam a roçar de muito perto não o propósito de uma obra cinematográfica mas sim uma sentida necessidade de expiação dos devaneios de um realizador que pretende uma partilha forçada com aquilo que sente, acima de tudo, uma vontade penosa de nos fazer ver os seus próprios pensamentos disfarçados de uma qualquer necessidade de fazer crer que o amor é apenas um sentimento a que o comum mortal não se pode dar ao luxo de sentir.
Choses Secrètes torna-se assim em um, mais um, dos excessos deste realizador em mostrar a relação muito próximo que sexo e poder nutrem mas falha redondamente ao perder-se nos seus próprios devaneios exibicionistas colocando todo o demais enredo em segundo plano numa obra que se torna pobre, excessiva e nula em grandes conteúdos.
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