quarta-feira, 16 de julho de 2014

Hustle & Flow (2005)

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Hustle & Flow de Craig Brewer é uma longa-metragem norte-americana vencedora do Oscar de Melhor Canção Original - "It's Hard Out Here for a Pimp" - e que conferiu ainda a Terrence Howard a nomeação a Melhor Actor.
DJay (Howard) passa pela vida pondo "as suas mulheres" a trabalhar na estrada para ele. Com sonhos antigos de uma vida de glória no mundo da música, DJay tenta com alguns dos seus amigos gravar a música que o poderá ajudar a alcançar esse sonho.
Do "bairro" para a "fama" é um tema recorrente nestas longas-metragens que anseiam desesperadamente por retratar o lado oculto do país das oportunidades. O argumento, também da autoria de Craig Brewer, acaba por ser o habitual nestas histórias com algumas variantes mais ou menos insinuantes e aqui o espectador conhece "DJay" (naquela que é a primeira e única - à data - nomeação a Oscar para Terrence Howard), um homem que se limita a uma existência cuja passagem apenas é marcada pela fidelidade de duas mulheres que ele tem a trabalhar para si enquanto prostitutas - "Nola" (Taryn Manning) e "Shug" (Taraji P. Henson) - e que um dia se cruza com um velho amigo da escola - "Key" (Anthony Anderson), agora um produtor musical sem "fogo" na sua vida.
"DJay" é o protótipo por excelência do falhado a quem a vida nunca sorriu. Perdido nos seus pensamentos e em ambições esquecidas ou, também elas, apagadas, desiste do sonho achando-o apenas uma memória semi-desaparecida que em tempos ousou pensar. Rude, pouco amistoso e forçosamente um "homem da rua" que sobrevive, é o seu encontro com "Kev" que o leva a desafiar o impossível e tentar a sua sorte no meio onde sempre achou pertencer... onde conta as suas experiências e onde, de certa forma, expia toda a sua vida como que em busca de uma redenção por parte daqueles que "do outro lado" se possam identificar com aquele que ele representa.
Mas, como tudo na vida, nem sempre essas oportunidades são passíveis de alcançar com a determinação que se lhes deposita ou mesmo com as portas que parecem ser momentaneamente abertas para que por elas se possam entrar. Mais uma vez, "DJay" encontra-se perdido no tal limbo a que os homens sem oportunidades - ou que a esta condição se entregaram - se encontram e, desesperado com a perspectiva de um futuro que nunca irá mudar, se revolta com a sua condição mantendo por perto apenas a fidelidade dos seus de sempre e novos amigos.
Não se engane o espectador com esta história ou tão pouco com um trailer mais ou menos apelativo.. Aqui, a novidade não parece existir e à semelhança de tantos outros - recordo-me muito imediatamente de 8 Mile, de Curtis Hanson - o protagonista que poderá não terminar com a perspectiva de futuro ideal mas encontra sim uma forma de redenção com o seu meio, a sua vida e as suas amizades que estranhamente parecem ser não só as únicas com que pode contar mas também aquelas que mais ou menos silenciosamente sempre estiveram do seu lado. O futuro, ou aquilo que dele se deseja (desejou) pode não ser aquilo que se irá alcançar mas, ao mesmo tempo, o tal karma cósmico parece encaminhar "DJay" - e amizades - para um certo universo não alternativo mas próximo de uma realidade outrora desejada... mesmo que para lá chegar se tenha de atravessar uma última e inesperada provação.
As oportunidades, os caminhos para as alcançar ou até mesmo os intervenientes que se lhe são colocados a determinada altura podem parecer os mais indicados mas, no entanto, mais não são do que testes últimos sobre a sua determinação e vontade para o seu (tal) sonho e que lhe vão confirmar que a luta poderá ser apenas e só sua... e nunca facilitada pelos enormes sorrisos que vêem nele um sonhador desaparecido que reconhecem mas que abominam e não querem enquanto "sangue novo" no espaço que, também eles, lhes custou a alcançar.
Motivacional? Talvez... De longo alcance? Pouco provável. Hustle & Flow é "aquele" filme que apesar de algum impacto mediático que tenha alcançado nos "seus dias" - que distante que isto parece - e mesmo com um Oscar no seu curriculum consegue apenas brilhar para um núcleo muito restrito que ainda pensa e acredita num ideal de "terra das oportunidades" onde o sonho (por acaso) ainda acontece. Dotado de uma fortíssima interpretação de Taryn Manning e de uma sempre magnífica e emotiva Taraji P. Henson, Hustle & Flow é tão meteórico como olvidável permanecendo apenas na memória como "aquele filme" que trouxe a palavra "chulo" à cerimónia dos prémios de cinema mais cobiçados do mundo.
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"DJay: Everybody got to have a dream."
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6 / 10
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