segunda-feira, 7 de julho de 2014

Offline (2014)

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Offline de Pedro Rodrigues é uma curta-metragem portuguesa de ficção e o mais recente trabalho deste realizador que nos trouxe o clássico S.C.U.M., um dos vencedores do Shortcutz Lisboa, um dos finalistas do MOTELx e um dos filmes premiados aqui pelo CinEuphoria em 2012, nomeadamente com os prémios de Melhor Curta-Metragem, Melhor Realizador de Curta-Metragem e Melhor Caracterização.
Num argumento também escrito por Rodrigues, Offline transporta o espectador para um ambiente sombrio onde percebemos que algo de sinistro se prepara. Vislumbramos uma mulher (Rita Brandão) que apresenta claros sinais de viver numa realidade muito própria que a rodeia e que apenas ela sente como sendo "normal".
Enquanto a própria prepara a edição de uma nova película, ao longe numa cadeira alguém está preso (Mafalda Oliveira), e percebemos que este filme poderá apresentar sinais mais sinistros do que aqueles que estávamos preparados para ver.
Vários são os indícios que desde o primeiro instante nos apontam para a presença de uma mente perturbada nomeadamente aquela imagem turva e pouco clara com que é iniciada a curta-metragem Offline. A realidade, ou a sua percepção, estão assim comprometidas e nos breves minutos que se seguem sabemos ir entrar num universo diferente e distinto onde a clausura física e principalmente a mental tomam conta dos acontecimentos sobrepondo-se assim à própria capacidade humana de sentir.
Sem um esclarecimento sobre o que levou aquele mente a ultrapassar os seus próprios limites, pois ao mesmo tempo em que nos deparamos com um ambiente grotesco e hóstil temos ao fundo na televisão uma música ligeira e imagens de Chaplin numa das suas muitas aventuras cómicas, apenas podemos deduzir que esta mulher foi de alguma forma marcada pela dor que a levou a querer eliminar todas as provas da sua existência nomeadamente aquelas que confirmem a sua passagem pelo plano terreno. É então que equacionamos que aquela jovem que se encontra detida e em sofrimento mais não será do que a sua própria filha que tortura impiedosamente ao mantê-la refém da sua vontade ao mesmo tempo que a obriga de forma quase maternal a assistir a um filme ligeiro e bem disposto... quão vã crueldade.
Crueldade esta que atinge limites ainda mais distintos quando a própria filha é, de seguida, "alimentada" por imagens do seu próprio cativeiro. Temos então uma macabra e sinistra alusão às suas duas obras-primas em confronto, ou seja, a filha que viu nascer e crescer e a sua obra fílmica cuja elaboração se deve ao sacrifício da primeira. O nascimento de um apenas será possível graças ao desaparecimento do outro que, tememos poder já ser um facto.
Todo o ambiente em torno de Offline é sinistro... Desde a história ao espaço e principalmente a sua personagem central que vive num qualquer delírio que nunca nos é explicado... e não seria preciso. Os grandes filmes de terror prendem-se com a premissa de que o mal, o verdadeiro mal, pode (sobre)viver simplesmente graças à existência daqueles que sabem que o podem fazer independentemente das consequências que dele chegarem. É isto mesmo que confirma o final desta curta-metragem; qual a defesa possível quando este verdadeiro mal surge pela mão daqueles que nos deveriam proteger e que um dia, sem qualquer motivo aparente, decidem que podem (e fazem) o mal que quiserem, impunes e donos do seu próprio (e dos outros) final?
A única diferença mais significativa entre os argumentos de S.C.U.M. e de Offline é assim a questão da impunidade. Enquanto em S.C.U.M., o mal e a violência são punidos por um inesperado vingador que se afirma pela retaliação, em Offline o mal sai impune e pelo seu próprio "pé", decidindo quando põe termo à sua obra por mais macabra que ela possa ser. Talvez por isso mesmo seja mais assustador e difícil de explicar... afinal que motivos poderemos nós encontrar para esclarecer este comportamento entre dois seres cuja principal razão de existir deveria ser o amor de uma pela outra?!
É com esta base que Pedro Rodrigues criou o clássico S.C.U.M., e que surge uma vez mais (felizmente) com Offline, outro filme que se espera (espero) chegue à selecção oficial da edição deste ano do MOTELx, e que confirma este realizador como um valor seguro do género e que, a título pessoal, espero continue a entregar obras sólidas no género de terror que (in)felizmente ainda poucos se atreveram a explorar, com qualidade, em Portugal.
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8 / 10
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