domingo, 4 de janeiro de 2015

Un Amato Funerale (2014)

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Un Amato Funerale de Luca Murri é uma curta-metragem italiana de ficção cujo argumento de Murri e Claudia Marinelli nos conta a viagem de Italia (Milena Vukotic) à sua terra natal para o funeral da sua mãe na companhia do seu neto Luca (Luca Murri).
Italia mostra-se uma mulher apagada, distante e que deambula pela casa onde vive com a filha e o neto, saudosa da sua terra da qual vive exilada há largos anos. Depois de uma avaria na lambreta de Luca, avó e neto refugiam-se num pequeno hotel enquanto esperam que esta seja arranjada para encontrarem pequenas surpresas que inicialmente seriam impensáveis nesta que se tinha como uma viagem de pesar e de perda.
Depois de Cierresse - Centro Recupero Supereroi - premiado aqui no CinEuphoria - o último trabalho de Luca Murri enquanto realizador é um notório salto para a frente em qualidade, sensibilidade e no saber conta uma história que se quer pessoal e sentida.
A dupla Murri e Marinelli assinam um argumento que tanto tem de sentimental pelo expressão da perda que uma idosa "Italia" demonstra pelo afastamento da sua terra, o tal exílio nunca explicado mas sentido pelo pesado olhar da magnífica e enérgica Milena Vukotic que a faz vaguear pela vida sem um rumo definido como também pelo seu oposto ao demonstrar que é possível - ainda que tarde - regressar ao mundo dos vivos, aqueles que sentem, que amam, que experienciam e que se deixam levar por uma torrente de acontecimentos nem sempre controláveis.
No fundo, e como comprovado em dois momentos chave pela relação avó e neto, "Italia" nunca deixara de sentir... a relação cúmplice, ainda que silenciosa, com o seu neto são o testemunho de que esta mulher sempre foi capaz de fazer expressar os seus sentimentos ainda que tidos fora do olhar daqueles que a rodeavam... longe da filha mesmo que esta se encontre no mesmo espaço e ao mesmo tempo longe do seu neto para com o qual apenas se expressa quando este dorme.
É este mesmo amor que se sente quando os dois se "perdem" e aguardam por poder prosseguir a sua viagem. Dois amores inesperados para aqueles que são agora dois jovens... "Italia" de coração e espírito e "Luca" de coração e idade que reencontram na mais improvável das viagens aquele que poderá ser o rumo para as suas vidas.
De uma cumplicidade também ela silenciosa, Milena Vukotic e Luca Murri têm uma química imediata e percebemos como facilmente poderiam realmente ser avó e neto. Cúmplices e com silêncios que são ruidosos e compreensivos, ambos desenvolvem uma relação apaixonante com o espectador que os entende a cada passo que dão... inclusivé quando estes iniciam potenciais relações que os fazem - talvez pela primeira vez - sentir vivos, com sentimentos pulsantes e vidas inteiras pela frente.
No final aquele que fora talvez o único funeral em que participaram foi aquele que fez terminar as vidas que levaram até então... Aquelas que despojadas de sentimentos mais íntimos fez "Italia" apenas vaguear pela vida... e que estaria - quem sabe - a condenar "Luca" ao mesmo rumo sem destino certo.
Apaixonante pela sentida história que transmite ao espectador, Un Amato Funerale confirma a existência daquele cinema italiano repleto de emoções - ainda que muitas reprimidas - e sentimentos, de cor e de vida... mesmo que pelo meio a alegria possa ser escondida e por vezes até mesmo sofrida e faz-nos ficar atentos ao próximo trabalho de Luca Murri enquanto realizador.
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8 / 10
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