sábado, 30 de maio de 2015

Julie Harris

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1921 - 2015
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SNGCI - Sindacato Nazionale Giornalisti Cinematografici Italiani - Nastri d'Argento 2015: os nomeados

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Realizador do Melhor Filme Italiano
Saverio Costanzo, Hungry Hearts
Matteo Garrone, Il Racconto dei Racconti
Nanni Moretti, Mia Madre
Francesco Munzi, Anime Nere
Paolo Sorrentino, Youth - La Giovinezza
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Melhor Realizador Revelação
Michele Alhaique, Senza Nessuna Pietà
Laura Bispuri, Vergine Giurata
Duccio Chiarini, Short Skin
Eleonora Danco, N-capace
Edoardo Falcone, Se Dio Vuole
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Melhor Comédia
Fino a Qui Tutto Bene, de Roan Johnson
Il Nome del Figlio, Francesca Archibugi
Italiano Medio, de Maccio Capatonda
Latin Lover, de Cristina Comencini
Noi e la Giulia, de Edoardo Leo
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Melhor Produtor
Cinemaundici /Luigi Musini e Olivia Musini com Rai Cinema, em colaboração com On My Own, Anime Nere
Luigi Musini e Olivia Musini com Elisabetta Olmi/Ipotesi cinema, Torneranno i Prati
Luigi Musini e Olivia Musini com Elda Ferri/Jean Vigo, Essentia ,Rai Cinema, Last Summer
Domenico Procacci/Fandango e Nanni Moretti Sacher, Mia Madre
Fulvio Lucisano e Federica Lucisano /IIF con Warner Bros Italia, Noi e la Giulia
Fulvio Lucisano e Federica Lucisano com Rai Cinema, Scusate se Esisto!
Mario Gianani e Lorenzo Mieli/Wildside con Rai Cinema, Hungry Hearts e Se Dio Vuole
Nicola Giuliano, Francesca Cima, Carlotta Calori/ Indigo Film, Il Ragazzo Invisibile e Youth - La Giovinezza
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Melhor Argumento Original
Alessandro Fabbri, Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo, Il Ragazzo Invisibile
Riccardo Rossi, Chiara Barzini e Luca Infascelli, La Prima Volta di Mia Figlia
Edoardo De Angelis e Filippo Gravino, Perez
Duccio Chiarini e Ottavia Maddeddu, Short Skin
Guido Lombardi e Gaetano Di Vaio, Take Five
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Melhor Argumento

Nanni Moretti, Francesco Piccolo e Valia Santella, Mia Madre
Francesco Munzi, Fabrizio Ruggirello, Maurizio Braucci com a colaboração de Gioacchino Criac, Anime Nere
Francesca Archibugi e Francesco Piccolo, Il Nome del Figlio
Matteo Garrone, Edoardo Albinati, Ugo Chiti e Massimo Gaudioso, Il Racconto dei Racconti
Paolo Sorrentino, Youth - La Giovinezza
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Melhor Actor Protagonista
Alessandro Gassmann, Il Nome del Figlio e I Nostri Ragazzi
Pierfrancesco Favino, Senza Nessuna Pietà
Fabrizio Ferracane, Marco Leonardi e Peppino Mazzotta, Anime Nere
Riccardo Scamarcio, Nessuno si Salva da Solo
Luca Zingaretti, Perez
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Melhor Actriz Protagonista
Ambra Angiolini, La Scelta
Margherita Buy, Mia Madre
Paola Cortellesi, Scusate se Esisto!
Alba Rohrwacher, Vergine Giurata e Hungry Hearts
Jasmine Trinca, Nessuno si Salva da Solo
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Melhor Actor Secundário
Claudio Amendola, Noi e la Giulia
Stefano Fresi, Ogni Maledetto Natale e La Prima Volta di Mia Figlia
Adriano Giannini, Senza Nessuna Pietà e La Foresta di Ghiaccio
Luigi Lo Cascio, I Nostri Ragazzi
Francesco Scianna, Latin Lover
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Melhor Actriz Secundária

Barbora Bobulova, I Nostri Ragazzi e Anime Nere
Valeria Bruni Tedeschi, Latin Lover
Giovanna Ralli, Un Ragazzo d’Oro
Micaela Ramazzotti, Il Nome del Figlio
Carla Signoris, Le Leggi del Desiderio
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Melhor Fotografia
Luca Bigazzi, Youth - La Giovinezza
Fabio Cianchetti, Hungry Hearts
Michele D’Attanasio, La Foresta di Ghiaccio
Fabio Olmi, Torneranno i Prati
Vladan Radovic, Anime Nere e Vergine Giurata
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Melhor Design de Produção

Dimitri Capuani, Il Racconto dei Racconti
Ludovica Ferrario, Youth - La Giovinezza
Rita Rabassini, Il Ragazzo Invisibile
Tonino Zera, Romeo e Giulietta e Soap Opera
Paki Meduri, Noi e la Giulia
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Melhor Guarda-Roupa
Massimo Cantini Parrini, Il Racconto dei Racconti
Alessandro Lai, Latin Lover
Lina Nerli Taviani, Maraviglioso Boccaccio
Carlo Poggioli, Youth - La Giovinezza e Romeo e Giulietta
Paola Ronco, Inferno, la Solita Commedia
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Melhor Montagem
Clelio Benevento, Mia Madre
Esmeralda Calabria, Il Nome del Figlio
Francesca Calvelli, Hungry Hearts e Latin Lover
Marco Spoletini, Il Racconto dei Racconti
Cristiano Travaglioli, Anime Nere e Youth - La Giovinezza
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Melhor Som
Maricetta Lombardo, Il Racconto dei Racconti
Antongiorgio Sabia, I Nostri Ragazzi
Remo Ugolinelli, Il Nome del Figlio
Vincenzo Urselli, Perez
Alessandro Zanon, Mia Madre
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Melhor Banda-Sonora
Enzo Bosso e Federico De’ Robertis, Il Ragazzo Invisibile
Paolo Fresu, Torneranno i Prati e Vinodentro
Raphael Gualazzi, Un Ragazzo d’Oro
Orchestra di Piazza Vittorio, Pitza e Datteri
Nicola Piovani, Hungry Hearts
Giuliano Taviani e Carmelo Travia, Maraviglioso Boccaccio e Ogni Maledetto Natale
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Melhor Canção Original
Lello Analfino, por "Cocciu d’amuri", Andiamo a Quel Paese
Aldo De Scalzi, Pivio, Claudio Pacini, Antonello De Leo e Pietro Loprieno, interpretada por Aldo De Scalzi por "Mocca alla crisi", Le Frise Ignoranti
Francesco De Gregori, por "Sei mai stata sulla luna?", Sei Mai Stata sulla Luna?
Raphael Gualazzi com Guliano Sangiorgi (e a participação de Erica Mou), interpretada por Gualazzi por "Time for my prayers", Un Ragazzo d’Oro
Giordano Corapi e Roberta Serretiello cantada por Roberta Ser por "Buonesempio", Take Five
Gatti Mezzi por "Morirò d’Incidente stradale", Fino a Qui Tutto Bene
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Crime (2015)

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Crime de Rui Filipe Torres é uma longa-metragem portuguesa de ficção e a mais recente a encontrar estreia comercial que tem gerado alguma curiosidade por ser livremente inspirada - não oficialmente - no mediático homicídio de um cronista social português que, para efeitos preventivos, o nome será aqui omitido mas com o qual todos estão devidamente familiarizados.
António (João d'Ávila) e Rodrigo (Ruben Garcia) são um casal não assumido que se encontra num quarto de hotel. A horas de embarcarem para uma viagem que se espera mítica em Nova York, Rodrigo espera pela fama que não encontra em Portugal e António com um jovem namorado rendidos aos favores que este lhe proporciona. Mas, quando as tensões sentimentais e a diferença de idades se interpõem no caminho, a tragédia é apenas um detalhes que os espera ao virar da esquina.
Devido à atenção mediática que causou a morte do já mencionado cronista social que tantos amavam e tantos outros odiavam, Crime era aquele filme que inevitavelmente haveria de surgir no panorama cinematográfico português. Um caso real, presente e que ainda hoje é motivo de tantos comentários e opiniões seria motivo para, esperava qualquer um de nós, fosse levado ao grande ecrã para uma algo sumarenta história que iria continuar a dar uma oportunidade a cada espectador tecer as suas próprias conclusões e comentários sobre o caso. No entanto, a história acabou por se algo diferente...
Ao contrário do esperado, Crime não reacendeu a discussão sobre o caso mas, por sua vez, levou a que aqueles que foram ver o filme - contando comigo estava apenas mais uma pessoa na sala - discutissem a qualidade cinematográfica deste... trabalho. Se nos últimos anos temos vindo a assistir a uma qualidade inquestionável de obras cinematográficas que não só têm aproximado o público português do cinema falado na sua língua, não é menos verdade que aqui aqueles que tiverem a ousadia de entrar na sala de cinema têm apenas uma de duas oportunidades: a primeira é resistir e pensar que isto é um pequeno precalço no cinema nacional ou como segunda opção pensar que Crime é um dos mais sérios e graves atentados que qualquer profissional pode cometer na sua carreira. Dito isto, concentremos o espectador na primeira opção - o cinema português é bom e recomenda-se - e este comentário na segunda - estamos perante um atentado - e que se siga para bingo.
Crime falha nos mais variados momentos. E quando digo que falha não é apenas na sua execução mas sim em pequenos detalhes que nem o mais elementar dos jovens estudantes de cinema cometeria num dos seus trabalhos académicos. Esqueçamos aquelas pausas quase embaraçosas que um diálogo entre duas pessoas pode ter... aqueles momentos em que ao conversar com outra pessoa ficamos sem tema de conversa imediato para um diálogo construtivo e que podem - e são - normalmente incomodativos e embaraçosos. Temos desses aqui e não são poucos - quase telenoveleiros até - e o espectador fica naquela posição de "sigam que pode ser que isto melhore"... mas não melhora... Mas mesmo esquecidos estes momentos que quase dão para ir tomar um cafézinho e concentremo-nos naqueles falhas que não são admissíveis num filme... Passemos a eles...
Quando "Rodrigo" desatento aos caprichos do seu companheiro prefere estar numa qualquer rede social - evitemos os nomes também - a actualizar os seus pensamentos, verificamos que o seu perfil recebe actualizações de alguém chamado "Ruben"... ora... o nome do actor que interpreta a anteriormente referida personagem. Ninguém pede perfeição - claro que pede - mas existem pequenos grandes detalhes que arruínam a credibilidade de uma obra que se pretende artística e este é um deles... e quando algum desses detalhes escapa é bom que não se concentre a câmara em cima do mesmo durante muito tempo a ver se passa sem ninguém notar... é que permanecer a filmar um erro é inevitável que alguém vá eventualmente dar por ele.
O segundo erro fatal de Crime é a sua captação de som. Não só é lastimável para a compreensão de alguns diálogos onde o eco é uma constante, como também se torna inoportuno um ou dois segmentos ou assistimos a um conjunto de legendas em inglês - porque existem é algo que me ultrapassa (não me venham com a ideia da internacionalização pois isto não chega nem sequer a Badajoz) mas até ajudou no momento - sem escutar qualquer tipo de diálogo entre os dois actores.
Finalmente - pelo menos entre os mais significativos - o terceiro grande erro desta peça cinematográfica prende-se com os segmentos em WC - poderia estabelecer aqui uma relação mas não o irei fazer - onde "Rodrigo" se encontra e tem os seus momentos mais angustiantes e reflexivos. Fechado naquele espaço o espectador deveria centrar-se na tensão dramática que a personagem de Ruben Garcia atravessa mas, por sua vez, concentra-se sim mas nas sombras e vultos reflectidos nos mosaicos de parede onde assistimos às instruções para que o actor reproduza. Inadmissível por muito pouco pretencioso que se queira um filme...
Como se todos estes erros e detalhes não fossem suficientes para queimar a hipótese do espectador ter aqui um filme interessante e com o qual pudesse criar uma maior proximidade ou empatia para com os trágicos acontecimentos nos quais este filme (não) se baseia, eis que surge a pérola no meio da desgraça quando os vários momentos da narrativa são interrompidos por aquilo que se pretende ter com misteriosas captações da lua ora branca ora vermelha como que se aguardasse a próxima vinda de Satanás à Terra e tudo ao som de uma igualmente tensa e fantasmagórica música capaz de fazer inveja ao mais negro dos filmes. Por momentos, e considerando que estava praticamente só naquela sala de cinema, dei por mim a olhar para o lado pois pensei que, das duas uma, ou estava a ser filmado para os apanhados ou então estava presente um qualquer teste alucinogenio facultado aquando da compra do bilhete. Nenhum deles... estava mesmo a viver um momento The Omen meets Birdcage e tudo estava surreal demais para ser verdade.
E no momento em que se espera que nada possa ser pior... Pode. Durante a acção de Crime, "Rodrigo", a personagem interpretada por Ruben Garcia, decide sair daquele bolorento quarto de hotel e aproveitar a noite da cidade. Dirigindo-se a um bar "despovoado" encontra "Olga" (Marina Albuquerque) - cujo nome da personagem só conhecemos nos créditos finais - que habilmente brinca aos olhos de quem quiser ver com um enorme e prateado dildo que retira da sua mala. Ainda que este momento pudesse conter algum tipo de sensualidade para o filme pela forma como ela tenta seduzir "Rodrigo" - não sei bem onde ou como mas enfim... - tudo se tornou um dos mais hilariantes momentos desta peça - filme? - que se queria séria e intensa mas que impossibilita qualquer um de nós de não soltar uma mais ou menos ligeira gargalhada.
Dito isto, entre luas fantasmagóricas, dildos prateados, masturbação pós-homicídio, maus diálogos e o uso exacerbado das palavras "New York", Crime resume-se a muito pouco. Resume-se aos seus erros, às suas pretensões não-assumidas, à sua vontade de fazer algo diferente mas que se ficou pelas tentativas falhadas de se tornar sequer num filme - menos ainda um que seja interessante. Resume-se a uma história que se ficou pelas banalidades de uma qualquer revista cor-de-rosa onde todos tentam e querem ter opinião e uma razão mas que se esqueceu das pessoas por detrás da tragédia... a que morreu, a que matou e todas aquelas que poderias ter sido representadas como sofrendo as consequências de um acto bárbaro. Esqueceu ainda a perversão do acto concentrando-se numa qualquer disfunção eréctil que o mesmo parece ter despertado no homicida e que o leva a tentar satisfazer-se depois de ter morto. Crime é, acima de tudo, um momento parolo que teve como base um dos mais mediáticos e assustadores crimes de ódio que Portugal conheceu - mesmo que não tenha decorrido em terras nacionais - dos quais nada soube retirar e que não respeita a memória das vítimas... àquela que foi barbaramente assassinada e que aqui é retratado como um infeliz com sonhos grandes demais e a família de um homicida que é vetada à inexistência.
Acto bárbaro esse que aliás, se resume apenas e só à existência deste filme. Filme que tem nome mas não tem categoria e que usa o talento de três magníficos actores para um conjunto de banalidades e verborreia absurdamente desconexa não lhes entregando material para explorar e criar três personagens - que de ficção pouco tiveram - que lhes possibilitaria entrar nos fantasmas físicos e psicológicos que aqueles que existiram realmente possuíram.
Como uma última nota a Crime... são projectos destes que nos Estados Unidos ou outro mercado maior condenariam a carreira de três brilhantes actores ao insucesso e esquecimento... felizmente em Portugal a nossa memória é curta e Garcia, d'Ávila e Albuquerque são três actores grandes demais para que este filme os prejudique verdadeiramente... mas para bem da sanidade de todos nós desejo que esqueçam muito rapidamente este projecto e que alguém se lembre de lhes entregar personagens capazes e dignas do seu enorme talento porque por aqui... o material escasseia.
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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Betsy Palmer

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1926 - 2015
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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Porto 7 - Festival Internacional de Curtas-Metragens do Porto 2015: selecção oficial

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Ficção Internacional
An Sobh, de Abbas Davoudi (Irão)
Astronautas, de Javier Ruiz (Espanha)
Ausstieg Rechts, de Rupert Höller e Bernhard Wenger (Alemanha)
Baùll, de Daniele Campea (Itália)
Cara de Caballo, de Marc Martínez (Espanha)
Dinner, de Dmitry Bukovskiy (Luxemburgo)
En Directo, de Wenceslao Scyzoryk (Espanha)
Flash, de Alberto Ruiz Rojo (Espanha)
Los Huesos del Frío, de Enrique Leal (Espanha)
Koshki Melurekan, de Tofigh Amani (Irão)
Listen, de Hamy Ramezan e Rungano Nyoni (Espanha)
The Loyalist, de Minji Kang (EUA)
Mellom Himmel Og Hav, de Håkon Anton Olavsen (Noruega)
Miedo, de Carlos de Antonio (Espanha)
La Mujer Asimétrica, de Ana M. Ruisz (Espanha)
My Shadow Mocks Me, de Jack McGinity (Reino Unido)
Nada S.A., de Caye Casas & Albert Pintó (Espanha)
Not Funny, de Katharina Woll (Alemanha)
One, de Daniel Devecioglu (Alemanha)
Otro Día Más, de Anne Thieme (Alemanha)
Plake Stil, de Zanyar Azizi (Irão)
Safari, de Gerardo Herrero (Espanha)
Sweetheart, de Miguel Angelo Pate (Alemanha)
Trato Preferente, de Carlos Polo (Espanha)
Un Tour de Cheville, de Guillaume Levil (França)
Willa, de Helena Hufnagel (Alemanha)
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Ficção Nacional
Bestas, de Rui Neto e Joana Nicolau
Dualidade, de Luís Miranda
Labirinto, de Paulo Abreu
Margem, de Miguel Pereira
Ode, de Ana Sofia Sousa
Puto, de Fabiana Tavares e Bernardo de Carvalho
Quietude, de Luís Miranda
Rastos de Pó, de Rui Neto
Vermelho Vivo, de David Barros
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Documentário
Bola Cá, Bola Lá, de Luís Sousa (Portugal)
Born to be Mild, de Andy Oxley (Reino Unido)
Elena Asins - Génesis, de Álvaro Gimenez Sarmiento (Espanha)
Hacia una Primavera Rosa, de Mario de la Torre (Espanha)
Hotel der Diktatoren, de Florian Hoffmann (Alemanha)
Little Questions, de Virginia Abramovich (Canadá)
Voces en el Aire, de Nicolas Cuiñas (Argentina)
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Animação
Alexandra, de David Silva (Colômbia)
Alienation, de Laura Lehmus (Alemanha)
Arroz y Fósforos, de Javier Beltramino (Argentina)
Bendito Machine V - Pull the Trigger, de Jossie Malis (Espanha)
Foi o Fio, de Patrícia Figueiredo (Portugal)
Оттенки серого - Shades of Gray, deAlexandra Averyanova (Rússia)
Re Place, de Sven Windszus (Alemanha)
Roadtrip, de Xaver Xylophon (Alemanha)
Seriously Deadly Silence, de Sara Koppel (Dinamarca)
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Ariel 2015 - Academia Mexicana de Cinema: os vencedores

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Filme: Güeros, de Alonso Ruizpalacios
Primeira Obra: Güeros, de Alonso Ruizpalacios
Documentário: H2Omx, de José Cohen
Filme Ibero-Americano: Relatos Salvajes, de Damián Szifrón (Argentina)
Realizador: Alonso Ruizpalacios, Güeros
Actor: Juan Manuel Bernal, Obediencia Perfecta
Actriz: Adriana Paz, La Tirisia
Actor Secundário: Noé Hernández, La Tirisia
Actriz Secundária: Isela Vega, Las Horas Contigo
Actor Revelação: Sebastián Aguirre, Obediencia Perfecta
Actriz Revelação: Nora Isabel Huerta, Seguir Viviendo
Argumento Original: Carmín Tropical, Rigoberto Perezcano
Argumento Adaptado: Obediencia Perfecta, Ernesto Alcocer e Luis Urquiza
Montagem: Las Oscuras Primaveras, Valentina Leduc
Fotografia: Güeros, Damián García
Música: Las Oscuras Primaveras, Emmanuel del Real, Renato del Real e Ramiro del Real
Som: Isabel Muñoz, Pedro González, Gabriel Teyna e Kyoshi Osawa, Güeros e Enrique Ojeda e Enrique Greiner, Las Oscuras Primaveras
Direcção Artística: Cantinflas, Christopher Lagunes
Guarda-Roupa: Cantinflas, Gabriela Fernández
Caracterização: Cantinflas, Maripaz Robles
Efeitos Especiais: Visitantes, Ricardo Arvizu
Efeitos Visuais: Visitantes, Charlie Iturriaga
Curta-Metragem de Ficção: Ramona, de Giovanna Zacarías
Curta-Metragem Documental: El Penacho de Moctezuma. Plumaria de México Antiguo, de Jaime Kuri
Curta-Metragem de Animação: El Modelo e Pickman, de Pablo Ángeles Zuman
Ariel de Oro: Bertha Navarro e Miguel Vázquez
Homenagens: Vicente Leñero, Gabriel García Márquez e José Emílio Pacheco
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Shortcutz Viseu - Sessão #54

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O Shortcutz Viseu está de regresso e a sua Sessão #54 irá decorrer uma vez mais no Museu Grão Vasco, em Viseu na próxima sexta-feira dia 29 de Maio a partir das 22 horas.
A noite começa com o segmento de Curtas-Metragens em Competição onde serão exibidos os filmes curtos Se o Dia Chegar, de Pedro Santasmarinas e Mulher.Mar, de Filipe Pinto e Pedro Pinto.
No segmento de Curta-Metragem Convidada, o Shortcutz Viseu irá exibir a curta-metragem de animação nomeada ao Sophia da Academia Portuguesa de Cinema, Outro Homem Qualquer, de Luís Soares que estará presente na sessão para a apresentação do seu filme.
Finalmente com o segmento Shortcutz Around the World será exibida Dawn, de Mario Rico (Espanha).
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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Prémios Platino 2015: os nomeados

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Melhor Filme Ibero-Americano de Ficção
Conducta, de Ernesto Daranas
La Isla Mínima, de Alberto Rodríguez
Mr. Kaplan, de Álvaro Brechner
Pelo Malo, de Mariana Rondón
Relatos Salvajes, de Damián Szifrón
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Melhor Primeira-Obra Ibero-Americana de Ficção
10.000 Km, de Carlos Marques-Marcet
Ciencias Naturales, de Matías Lucchesi
La Distancia más Larga, de Claudia Pinto
Mateo, de Maria Gamboa
Vestido de Novia, de Marilyn Solaya
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Melhor Documentário
¿Quién es Dayani Cristal?, de Marc Silver
2014. Nacido en Gaza, de Hernán Zin
El Vals de los Inútiles, de Edison Cájas
O Sal da Terra, de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders
Paco de Lucía: La Búsqueda, de Curro Sánchez
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Melhor Filme de Animação
Até que a Sbórnia nos Separe, de Otto Guerra e Ennio Torresan
Dixie y la Rebelión Zombi, de Beñat Beitia e Ricardo Ramón
La Leyenda de las Momias de Guanajuato, de Alberto Rodriguez
O Menino e o Mundo, de Alê Abreu
Meñique, de Ernesto Padrón
Mortadelo y Filemón Contra Jimmy el Cachondo, de Javier Fesser
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Melhor Realizador
Alberto Rodríguez, La Isla Mínima
Álvaro Brechner, Mr. Kaplan
Damián Szifrón, Relatos Salvajes
Ernesto Daranas, Conducta
Mariana Rondón, Pelo Malo
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Melhor Actor
Benicio del Toro, Escobar: Paraíso Perdido
Javier Gutiérrez, La Isla Mínima
Jorge Perugorría, La Pared de las Palabras
Leonardo Sbaraglia, Relatos Salvajes
Óscar Jaenada, Cantinflas
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Melhor Actriz
Érica Rivas, Relatos Salvajes
Geraldine Chaplin, Dólares de Arena
Laura de la Uz, Vestido de Novia
Leandra Leal, O Lobo Atrás da Porta
Paulina García, Las Analfabetas
Samantha Castillo, Pelo Malo
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Melhor Argumento
Álvaro Brechner, Mr. Kaplan
Damián Szifrón, Relatos Salvajes
Ernesto Daranas, Conducta
Mariana Rondón, Pelo Malo
Rafael Cobos e Alberto Rodríguez, La Isla Mínima
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Melhor Montagem
Damián Szifrón e Pablo Barbieri, Relatos Salvajes
José M. G. Moyano, La Isla Mínima
Marité Ugas, Pelo Malo
Nacho Ruiz Capillas, Mr. Kaplan
Pedro Suárez, Conducta
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Melhor Fotografia
Alejandro Pérez, Conducta
Alex Catalán, La Isla Mínima
Álvaro Gutiérrez, Mr. Kaplan
Javier Juliá, Relatos Salvajes
Micaela Cajahuaringa, Pelo Malo
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Melhor Música Original
Adán Jodorowsky, La Danza de la Realidad
Gustavo Dudamel, Libertador
Gustavo Santaolalla, Relatos Salvajes
Julio de la Rosa, La Isla Mínima
Magda Rosa Galbán e Juan Antonio Leyva, Conducta
Roque Baños, El Niño
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Melhor Direcção Artística
Clara Notari, Relatos Salvajes
Erick Grass, Conducta
Gustavo Ramírez, Mr. Kaplan
Matías Tikas, Pelo Malo
Pepe Domínguez, La Isla Mínima
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Melhor Som
Daniel de Zayas, Pelayo Gutiérrez e Nacho Royo-Villanova, La Isla Mínima
Fabián Oliver e Nacho Royo-Villanova, Mr. Kaplan
José Luis Díaz, Relatos Salvajes
Juan Carlos Herrera e Osmany Olivare, Conducta
Lena Esquenazi e John Figueroa, Pelo Malo
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terça-feira, 26 de maio de 2015

Vicente Aranda

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1926 - 2015
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Prémio Autores 2015 - Cinema: os vencedores

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Filme: A Vida Invisível, de Vítor Gonçalves
Actor: João Perry, A Vida Invisível
Actriz: Maria do Céu Guerra, Os Gatos não têm Vertigens
Argumento: Tiago R. Santos, Os Gatos não têm Vertigens
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domingo, 24 de maio de 2015

Globos de Ouro SIC/Caras 2015: os vencedores de Cinema

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Filme: Os Maias - Cenas da Vida Romântica, de Alexandre Oliveira (prod.) e João Botelho (real.)
Actor: Filipe Duarte, A Vida Invisível
Actriz: Maria do Céu Guerra, Os Gatos não têm Vertigens
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Globos de Ouro SIC/Caras 2015 - Cinema: Melhor Filme

 
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Os Maias - Cenas da Vida Romântica
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Alexandre Oliveira (prod.)
João Botelho (real.)
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Globos de Ouro SIC/Caras 2015 - Cinema: Melhor Actor

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Filipe Duarte
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A Vida Invisível
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Globos de Ouro SIC/Caras 2015 - Cinema: Melhor Actriz

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Maria do Céu Guerra
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Os Gatos não têm Vertigens
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Festival Internacional de Cinema de Cannes 2015: os vencedores

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Competição Oficial
Palma de Ouro: Dheepan, de Jacques Audiard
Grande Prémio do Júri: Saul Fia, de László Nemes
Realizador: Hou Hsiao-Hsien, Nie yin Niang
Actor: Vincent Lindon, La Loi du Marché
Actriz: Emmanuelle Bercot, Mon Roi e Rooney Mara, Carol
Prémio do Júri: Yorgos Lanthimos, The Lobster
Prémio do Júri Ecuménico: Mia Madre, de Nanni Moretti
Argumento: Michel Franco, Chronic
Caméra d'Or: La Tierra y la Sombra, de Cesar Augusto Acevedo
Palma de Ouro - Curta-Metragem: Waves '98, de Ely Dagher
Palma de Honra: Agnès Varda
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Cinéfondation
Primeiro Prémio: Share, de Pippa Bianco
Segundo Prémio: Locas Perdidas, de Ignacio Juricic Merillán
Terceiro Prémio: The Return of Erkin, de Maria Guskova e Victor XX, de Ian Garrido López
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Quinzena dos Realizadores
Prémio Art Cinema: El Abrazo de la Serpiente, de Ciro Guerra
Prémio SACD: Trois Souvenirs de Ma Jeunesse, de Arnaud Desplechin
Prémio Europa Cinemas Label: Mustang, de Deniz Gamze Erguven
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Un Certain Regard
Prémio Un Certain Regard: Rams, de Grímur Hákonarson
Prémio do Júri: Zvizdan, de Dalibor Matanic
Realizador: Kiyoshi Kurosawa, Kishibe no Tabi
Prémio Un Certain Talent: Corneliu Porumboiu, Comoara
Prémio Especial: Nahid, de Ida Panahandeh e Masaan, de Neeraj Ghaywan
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FIPRESCI
Competição Oficial: Saul Fia, de László Nemes
Un Certain Regard: Masaan, de Neeraj Ghaywan
Secções Paralelas: La Patota, de Santiago Mitre
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Semana da Crítica
Grande Prémio Nespresso: La Patota, de Santiago Mitre
Prémio SACD: La Tierra y la Sombra, de César Augusto Acevedo
Prémio Visionário France 4: La Tierra y la Sombra, de César Augusto Acevedo
Prémio Descoberta - Curta-Metragem: Varicella, de Fulvio Risuleo
Prémio Canal+ - Curta-Metragem: Ramona, de Andrei Cretulescu
Garantia de Distribuição da Fundação Gan: Ni le Ciel, Ni la Terre, de Clément Cogitore
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Palm Dog: Lucky, pela sua interpretação como "Dixie", As Mil e Uma Noites
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sábado, 23 de maio de 2015

Anne Meara

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1929 - 2015
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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Fora da Vida (2015)

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Fora da Vida de João Miller Guerra e Filipa Reis é uma curta-metragem portuguesa estreada na passada edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema e que encontra agora a sua estreia comercial em complemento a O Indispensável Treino da Vagueza também desta dupla de realizadores.
Um retrato de um Portugal deste 2015 onde o tempo escapa muito rapidamente entre os dedos. Um Portugal que se desvanece numa rede de obrigações onde o "eu" tem como única função o trabalho e a sobrevivência para resistir mais um dia. Um país perdido entre as redes sociais factuais e os papéis ditos "típicos" que se desvanecem e alteram.
A dupla João Miller Guerra e Filipa Reis volta a entregar um interessante filme que trespassa e interliga as fronteiras entre o documentário e a ficção relatando a forma como pessoas comuns que vivem nas margens das grandes cidades podem e conseguem ultrapassar os seus dias no seio de um conjunto de tarefas que têm como fim último a sua sobrevivência.
Desde as pequenas tarefas diárias aos serviços que se fazem como forma de ter um rendimento extra, Fora da Vida analisa a forma como cada uma destas pessoas aqui retratadas conseguem ultrapassar os dias num Portugal que se encontra num processo de transformação sem rumo certo.
Ao mesmo tempo, esta curta-metragem documental aborda a forma como os papéis sociais típicos de outros tempos se alteraram primeiro pela forma como se relata que agora também os pais ficam em casa com os seus filhos ou até lhes mudam a fralda - tarefa tida como materna noutros tempos - ou até como a figura materna é agora tão mais ausente e distante do que noutros tempos. Observamos também como estudantes precisam ao mesmo tempo de trabalhar deixando um pouco aquela ideia de que só estão agarrados a livros ou até como a maternidade que há alguns anos chegava em jovem idade e agora já tarde nos 30's.
No entanto, e para além da silenciosa presença desta dupla de realizadores que estando presente não se faz notar, é também curioso observar a sua abordagem a estas diferentes pessoas de diversas gerações e de vários locais onde Portugal marcou presença encontrarem agora neste país transformado e em crise económica e de identidade o seu lugar. Um lugar ao qual sentem pertencer - e pertencem - que longe das suas origens é agora a sua casa. A multiculturalidade que fez de Portugal um "país dos cinco continentes" é tida como uma sua natural característica não questionada mas observada num silêncio que, não fosse essa dita crise, seria reconfortante.
Fora da Vida marca assim um novo regime ao cinema social que a dupla de realizadores tem vindo a registar ao longo da sua carreira e mais uma interessante e cândida abordagem às populações das margens... aquelas que sem certezas vivem anonimamente o seu dia-a-dia na esperança de que o amanhã seja um pouco melhor ou pelo menos com um pouco mais de esperança.
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O Indispensável Treino da Vagueza (2014)

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O Indispensável Treino da Vagueza de Filipa Reis e João Miller Guerra é um documentário em formato de média-metragem cujo conteúdo é desenvolvido através de imagens de arquivo da Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual assim como de pequenas conversas caseiras tidas entre a dupla de realizadores.
Se inicialmente O Indispensável Treino da Vagueza nos apresenta um conjunto de noções e categorias de espaço básicas que se opõem entre si como, por exemplo, fora e dentro ou interior e exterior cedo o documentário leva o espectador à observação de imagens de arquivo sobre as mais diversas manifestações artísticas que têm passado pelo referido centro.
Ao mesmo tempo escutamos alguns excertos de gravações de aulas de Manuel Castro Caldas que devidamente enquadradas na execução deste documentário explicitam muita da vontade criativa inerente a cada artista nomeadamente se escutarmos os desabafos íntimos da dupla que procuram uma certa validação da sua arte. Validação essa que como Miller Guerra a certa altura diz, reside no simples e único facto de querer ou sentir vontade de continuar a criar independentemente de se alguém de seguida quer apreciar aquilo que criou.
A Vagueza - como é a certa altura definida - é um tipo particular de trabalho e esforço ou a própria modalidade do ser, ou seja, analisando à luz do título, estamos perante uma constante necessidade de adaptação e criação (ou criatividade) que apenas se valida pela constante movimentação do ser. Aquele "bichinho" ou a tal "voz" que cada artista sente em criar e elaborar a sua próxima obra sem pensar no facto de se irá ser - ou não - lucrativa ou aceite aos olhos dos demais. No fundo, um trabalho artístico será, segundo Castro Caldas, o "fazer chegar algo novo através de coisas que não são necessariamente novas", ou seja, a sua constante mutação e reutilização e, como tal, adaptação às necessidades do momento.
Habituado que estou enquanto espectador a assistir a obras com um cariz mais social - e também documental - da dupla de realizadores como Orquestra Geração (2011), Nada Fazi (2011) ou Bela Vista (2012), confesso que O Indispensável Treino da Vagueza que estreara em Outubro último no DocLisboa não preencheu as minhas medidas. Percebo em certa medida este documentário como um eventual ponto de reflexão - seja ele ou não - sobre as suas "carreiras" (palavra utilizada não num sentido formal) de um artista mas que, para além disso, tem um sentido prática enquanto cinema muito vago e pouco presente.
É um facto que o artista cria conforme aquilo que se sente utilizando a sua obra enquanto veículo de comunicação sobre a sua percepção da sociedade mas, ao mesmo tempo, para o espectador que espera encontrar aquela peça de onde irá retirar o seu próprio elemento identificativo irá aqui encontrar-se igualmente perdido e sem um certo rumo. Academicamente poderá ser uma interessante obra de homenagem à Ar.Co mas enquanto objecto cinematográfico... não será sedutor ou apelativo ou tão pouco aquilo que o espectador está acostumado a ver por parte desta dupla de realizadores que já nos deu muito mais.
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4 / 10
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quinta-feira, 21 de maio de 2015

El Círculo de Raynard (2014)

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El Círculo de Raynard de María Valle e Manuel Vidal é uma longa-metragem espanhola de ficção que nos remete para um imaginário que mescla o fantástico e o suspense numa história que se inicia como um relato documental.
Uma equipa de gravação efectua uma reportagem sobre Friedrich Raynard, um criminoso de guerra nazi especialista no ocultismo que supostamente passou os seus últimos dias no norte de Espanha, quando se iniciam estranhos acontecimentos que colocam em causa as suas convicções mais básicas e mostrando que o mundo tem muito mais por explicar do que aquilo que as nossas crenças supunham.
Raúl González e Manuel Vidal escrevem o argumento deste filme que se pretende afirmar inicialmente como um relato documental e histórico sobre a relação tida entre o nazismo e o ocultismo e a próxima ligação que Hitler teve com estas ciências que o levaram a tentar contactar com o desconhecido e obter informação sobre o futuro e a sua "glória". Até aqui o espectador é levado a uma descoberta que, ainda que ficcional, desperta pela originalidade e inovação mas quando El Círculo de Raynard entre pelo domínio da ficção e fantástico para lá da reportagem documental, todo o filme parece entrar numa espiral que tenta remendar (-se) a cada segundo que passa.
"Marcos" (Manuel Vidal), "Sara" (Natalia Díaz), "Edu" (Luis Muñiz) e "Sergio" (David Carrio) são a equipa que se desloca para o norte de Espanha com o objectivo de realizar esta docu-reportagem e por muito esforço efectuado pelos respectivos actores, as suas personagens acabam por cair num conjunto de banalidades digno de um filme série B que se esforça mas acaba por cair no esquecimento e que funcionam quase exclusivamente como um veículo da história e não das suas próprias motivações formando ainda algumas suspeitas - desnecessárias para o espectador - sobre o eventual trio romântico "Marcos" - "Sara" - "Edu".
Rapidamente esquecido que está o misticismo e a sua eventual ligação ao nazismo alemão, El Círculo de Raynard perde-se numa vã tentativa de ligar as suas personagens apenas ao oculto, às viagens no tempo e a uma eventual duplicidade do mesmo que cria vários caminhos e eventuais reencarnações do "eu" nas diversas realidades que, de uma ou outra forma, se poderão encontrar sendo na sua essência distintos entre si. E ainda que exista a vontade de criar uma linha condutora entra a ideia inicial deste filme e aquela que acaba por ganhar protagonismo, a realidade é que ele deixa de ser coerente centrando-se apenas na premissa inerente a uma história de viagem temporal e pouco, muito pouco, no propósito documental com que se iniciou e na qual estava, em boa medida, a originalidade do mesmo.
Com um conjunto de efeitos especiais nem sempre conseguidos e uma caracterização dos actores frágil e pouco credível, El Círculo de Raynard apenas se sustém pela premissa daquilo que poderia ter sido, ou seja, uma história que apesar de ficcionada, se centrava na busca de alguns elementos históricos - também eles mais ou menos ficcionados para efeitos cinematográficos - que sustentassem a dramatização das suas personagens transformando-o assim numa história de suspense ou thriller histórico que cativasse pela sua capacidade de levantar questões. Aqui o que temos na sua maioria é uma amálgama de momentos nem sempre conseguidos e que se perdem entre o docudrama e o série B de ocultismo que não só se esquece com a certo momento cansa.
Falha na perspectiva de thriller, esquece os elementos mais básicos de suspense e terror que prendem o espectador ao ecrã sempre desejoso das próximas imagens e ignora na sua totalidade a reportagem que se propõe fazer no início - ainda que ficcionada repito - mas que lhe garantia a originalidade ao se tornar num filme diferente que aborda uma temática nem sempre aprofundada sobre o lado oculto do nazismo que se prende com abordagens medievais e práticas "desconhecidas" e que aqui se perde ao querer ser transformado em "mais um" filme do género suspense mas que... nem nisso triunfa.
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5 / 10
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Flexibility (2014)

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Flexibility de Remedios Crespo é uma curta-metragem de ficção espanhola e curiosamente um dos mais intensos filmes que visionei nos últimos tempos e que tão bem se adequa aos nossos dias presentes e futuros...
Europa 2017. Quando os trabalhadores de uma fábrica são reunidos de emergência para a salvar do seu encerramento, as diferenças entre estes e os seus donos não são aquelas que esperaríamos à partida. Quando o mundo parece demasiado esgotante, aquilo que nos separa não parece ser assim tanto...
A curta-metragem Flexibility da realizadora e argumentista Remedios Crespo não poderia chegar em altura mais oportuna quando tece um intenso e mordaz retrato de uma Europa sufocada por cortes orçamentais e austeridade que justificam uma desenfreada correria a uma desumanização sem precedentes e que são aqui embelezados com uma gélida ironia. Nesta fábrica e neste futuro distante - talvez não tão distante - encontramo-nos tal como hoje... em crise. Uma crise que parece não abrandar e que nos transformou - aos Europeus - em seres mecânicos que apenas defendem uma ilusória ideia de que ainda são "humanos". Esta humanidade há muito que desapareceu e aos poucos e atrás dos sucessivos cortes, a tal Europa que outrora fora de valores maiores e solidariedade é agora substituída por um novo rosto que apela a um diferente tipo de sobrevivência. Se em tempos trabalho significava independência e liberdade, é nesta Europa um sinal de austeridade, cortes relativamente ao seu capital humano e, por consequência, um corte nos pagamentos daqueles que conseguem resistir.
Mas não é tudo. Em Flexibility o espectador encontra o lado mais desumano e perverso da Humanidade quando assiste a um sem fim de cedências de direitos que apenas garantem o trabalho mas nenhum tipo de pagamento ou sobrevivência para lá das quatro paredes daquela fábrica. Não é que os lucros da mesma tenham deixado de existir... eles mantêm-se. No entanto, como reduzem face aos tempos conturbados que aparentemente existem "lá fora", estes são encarados como prejuízos que apenas podem ser colmatados através de uma de duas soluções... A primeira e mais prática será com despedimentos massivos que garantam alguma "sobrevivência"... A segunda hipótese prende-se com a manutenção de todos os trabalhadores mas, se possível, sem salário. Afinal, não é tão confortante, digno e bom ter trabalho?! Nem que seja a qualquer custo...
E é quando o espectador pensa que a tortura psicológica terminou que percebe que para lá dos cortes - humanos ou salariais - que chega ainda a premissa de que todos os funcionários devem ser multifacetados e sair das suas zonas de conforto obtendo conhecimentos e profissionalização em mais do que uma máquina para poderem estar em vários sítios ao mesmo tempo... A fábrica é agora um animal grande e poderoso demais para ignorar e todos têm de lhe dedicar atenção absoluta... mesmo em seu próprio prejuízo. Que reine a flexibilidade...
Cansados e sem força para reclamarem os seus direitos, Flexibility torna-se então num retrato futurista - e não só - dos novos e orgulhosos escravos... Contentes com um trabalho desumano - ou sub-humano - que lhes permite apenas e só isso... trabalhar...
Lacaios de um poder económico que os amordaçou à sua vontade de sobrevivência, o Homem percebe que está preso a um caminho do qual jamais conseguirá fugir e lentamente, sem que disso dê conta, vive numa prisão que pensa lhe conferir regalias - inexistentes - vivendo num sonho de olhos abertos sobre a possibilidade do que pode vir a obter mas que, no entanto, nunca irá chegar.
Se pensarmos, não estamos tão longe desta "realidade". Foi dito que o trabalho confere dignidade e liberdade pela possibilidade de expandir horizontes que o salário obtido lhe confere. No entanto, aos poucos toda a sociedade moderna vive presa com a ilusão de que é bom trabalhar independentemente daquilo que ganhe... Primeiro um pouco menos... depois mais um imposto... finalmente mais uma taxa. Quando percebe, o homem moderno trabalha apenas com a vã esperança de conseguir pagar as suas contas ao final do mês perpetuando o ciclo dos grandes interesses económicos que não permitem mais do que a subsistência mais básica do Homem. Animais pensantes anestesiados que aos poucos se privaram de tudo... dos seus Direitos e inclusive da sua própria Liberdade.
Igualmente intensa a direcção de fotografia de Juan Gonzalez que confere a todo o espaço em que "nos" encontramos a atmosfera cinzenta, mortiça e apagada que se espera de um espaço sem esperança e morto nos seus ideiais.
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9 / 10
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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Mary Ellen Trainor

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1950 - 2015
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Shortcutz Viseu - vencedor do mês de Abril

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A curta-metragem Dédalo, de Jerónimo Ribeiro Rocha foi a vencedora do mês de Abril do Shortcutz Viseu.
Dédalo torna-se portanto na mais recente nomeada ao Prémio Shortcutz Viseu de Melhor Curta do Ano na segunda cerimónia a realizar em meados de 2015 competindo para este galardão com as curtas-metragens Salomé, de Sofia Bairrão, Bicho, de Carlos Jesus e Miguel Munhá, Cigano, de David Bonneville, Pela Boca Morre o Peixe, de João P. Nunes, Boy, de Bruno Gascon, Contactos 2.0, de Bernardo Gomes de Almeida e Rodrigo Duvens Pinto, Bodas de Papel, de Francisco Antunez, O Reino, de Paulo Castilho e ainda Não são Favas, são Feijocas, de Tânia Dinis que fora a vencedora do último mês.
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La Cosecha (2014)

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La Cosecha de Roberto Santiago é uma longa-metragem espanhola de ficção na qual vinte e quatro jovens desconhecidos se encontram numa casa para aquilo que será uma festa diferente do habitual.
Todos se conheceram online e o primeiro objectivo é um encontro muito descontraído em casa de Tyrrell (Álvaro Fontalba), um rapaz algo retraído e tímido que está encarregado não só de gravar na primeira pessoa aquilo que a noite irá trazer como de todos os preparativos para o que daí virá. Numa casa filmada de todos os ângulos e a todo o momento, estes jovens preparam-se para uma noite da qual apenas um irá sair com vida.
Recorrendo a todos os truques da mente humana e algumas ajudas de todo o tipo de armas que uma casa pode esconder, qual destes jovens conseguirá escapar com vida e ver a luz do dia seguinte?
O argumento da autoria do próprio realizador e de Pablo Fernández Vázquez transporta-nos para o imaginário The Hunger Games muito rapidamente. Em primeiro lugar logo pelo seu título - La Cosecha tem como tradução A Colheita - e de seguida por todos os elementos técnicos como a gravação de todos os lugares a todo o momento sem esquecer o óbvio assobio que não deixaria a partir de então qualquer dúvida. No entanto, não é menos verdade afirmar que ainda que tendo elementos que o aproximam da referida obra, tem também aquele que lhe confere alguma originalidade no género nomeadamente o facto de transportar todo um cenário de um jogo de luta pela sobrevivência futurista para a nossa realidade presente e para um domínio que pode ser bem mais próximo como, por exemplo, o jardim das traseiras de qualquer lar mais ou menos suburbano.
Aquilo então que o espectador se questiona é relativamente simples... até que ponto conhecemos aqueles com quem diariamente nos cruzamos e, muito concretamente, o que se passa nas redes sociais por onde este "simpático" grupo se conheceu? O que se planeia escondido dos olhares mais atentos? Quem por lá anda e com que intenções? Até que ponto o mais inofensivo dos lares é realmente inofensivo?
Identificados por números e nunca pelos seus nomes, estes jovens representam a juventude dos nossos tempos... Com profissões mais ou menos distintas, gostos algo semelhantes e uma idade próxima, todos eles aparentam ser, a olho nu, o reflexo daquilo que a sociedade possui... Desde estudantes a donas de casa, de porteiros a desempregados e até um padre, todos eles são um pouco do dia-a-dia de todas as cidades, passando mais ou menos despercebidos aos olhares mais indiscretos mas todos eles revelam uma certa insatisfação com essa rotina que os assombra diariamente. Do mais cool ao mais inadaptado, todos aparentam um nervosismo natural de um grupo que acaba de se conhecer mas que parece estranhamente adaptar-se... No entanto, o espectador percebe que esta aparente calmaria está prestes a terminar.
É no início desta "jogo" - macabro - que finalmente se revelam as diferentes naturezas humanas. Uns que esperavam um jogo apenas como uma forma de diversão, outros que revelam estranhas alianças como forma de sobreviverem mas que para tal são capazes de matar de forma bárbara e cruel e finalmente aqueles que apenas tentam escapar até que tudo acabe sem que ninguém dê pela sua presença. Temos de tudo neste jogo - e nesta casa - principalmente a revelação do verdadeiro espírito humano, ou seja, um animal selvagem prestes a revelar-se desde que lhe dêem a oportunidade. Num misto de The Hunger Games vs. Funny Games vs. Battle Royale e com o pretexto de uma sobrevivência - pós jogo -, o espectador acaba por nunca saber o que levou a este encontro... Talvez uma estranha fama ou o reconhecimento das redes sociais, talvez a prisão ou mesmo a morte, todos eles se motivam e deixam levar por um jogo de tortura e sadismo que se torna difícil de explicar e mais ainda de entender restando apenas a única explicação capaz para tudo... não existe nenhuma. O Homem é um animal perigoso e selvaticamente amordaçado pela leis de convivência em sociedade sendo, no entanto, violento, impiedoso e perigoso no seu íntimo e que, quando dada a oportunidade, se torna selvagem e irracional capaz do pior para garantir a sua supremacia.
No entanto, é quando pensamos que as surpresas já não irão chegar e que estamos apenas perante uma carnificina que garante a sobrevivência apenas de um, que o espectador é finalmente surpreendido pelas intenções - ou motivos - de um jovem que são revelados com a chegada de dois novos "jogadores".
Despojado de qualquer artifício ou efeitos especiais ou até de um argumento que prime pela originalidade ou novidade La Cosecha consegue, no entanto, cativar pela relativamente espontânea capacidade do Homem moderno em se tornar selvagem e desprovido de todos os sentidos ou valores anteriormente retidos em sociedade. Talvez um escape que um "animal" encontra... talvez na prática nunca tenha sido socialmente integrado, La Cosecha deixa no ar a eterna pergunta sobre até que ponto estamos todos nós "domesticados" com as regras às quais desde crianças somos submetidos?
Ainda com uma pitada de comédia negra - e sangrenta - La Cosecha sobrevive pelo seu espírito fresco e por vezes divertido - mesmo dentro de um banho de sangue - com que se consegue impôr e pelas perguntas que levanta sem que com isso fuja à sua natural essência de filme de suspense e algum "terror" conferido pelo que de real tem nas suas dimensões da sociedade moderna. Num mundo em que a televisão e as redes sociais estão à distância de um "click"... estará a fama assim tão longe do nosso alcance permitindo a qualquer um ser "famoso" apenas porque se tornou num rosto conhecido?
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7 / 10
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terça-feira, 19 de maio de 2015

Trato Preferente (2014)

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Trato Preferente de Carlos Polo é uma curta-metragem de ficção espanhola que foi nomeada ao Goya na sua respectiva categoria na última edição dos prémios anuais da Academia Espanhola de Cinema.
Paquita (Edna Fontana) aparece com um ar angelical mas tem por detrás do seu sorriso uma missão. Num armazém abandonado, ela encontra-se com um bancário (Antonio Gómez) que com medo lhe revela que não pode fazer nada.
Paquita é uma mulher no limite... com uma idade avançada e sem as poupanças de uma vida ela está literalmente disposta a tudo.
Esta surpreendente curta-metragem cujo argumento é também da autoria do realizador Carlos Polo, foi dada a conhecer no reputado NotodoFilmFest e nos seus pouco mais de três minutos contém uma mensagem de tal forma forte e actual que o seu reconhecimento não tardaria a chegar.
Num mundo desumanizado e onde o lucro fácil espreita por todos os cantos, "Paquita" é uma das muitas vítimas que são apanhadas numa amálgama de ofertas e brindes que toldam o seu - nosso - raciocínio. Não, não falamos de uma qualquer época futurista onde o fim está próximo. Trato Preferente é actual, retrata os nossos dias... o sistema bancário e aqueles que para eles trabalham. Retrata o consumidor que é tantas vezes envolvido num esquema financeiro do qual não consegue escapar e para o qual perde tudo num abrir e fechar de olhos tendo toda uma vida transformada sem que se consiga processar tudo o que aconteceu.
As seguranças desapareceram... as mentiras e os inuendos rapidamente tomaram conta de tudo resto e agora só permanece o desespero, a alucinação e o vale tudo num mundo onde já nada existe para perder... e quando a idade também já não é um impedimento... as ideias surgem como perigosas armas.
Edna Fontana exibe todas as fases de alguém desesperado para quem a vida já não tem significado. Como tal, porque não levar alguém com ela para aquela outra dimensão?! De uma pacata mulher - eventualmente mãe e avó - para alguém cujos pensamentos não a atraiçoam mas sim conferem-lhe ideias de vingança, de sangue, de tortura e de dor física equivalente àquela que psicologicamente a afecta?! Intensa - e algo cómica - interpretação que não passa despercebida, Fontana revela ao espectador que ao contrário daquilo que temos normalmente como garantido do "outro", certo é que em alturas de desespero nunca sabemos o que esperar daqueles com quem convivemos. No fundo Trato Preferente é, para além de uma história de vingança - ou talvez justiça poética - uma história sobre todos aqueles que cruzam o nosso caminho e que com mentiras mais ou menos inocentes - tudo menos inocentes - são enganados... até ao dia cujos seus limites já foram ultrapassados.
E qualquer semelhança com a realidade não é "pura coincidência"!
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8 / 10
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Una Cuestión de Etiqueta (2014)

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Una Cuestión de Etiqueta de Roger Villarroya e Mario Rico é uma curta-metragem espanhola de ficção que leva o espectador a um inesperado velório.
Carlos morreu. Numa enorme sala todos falam sobre ele até que o seu irmão (Álvaro Cervantes) aborda Julián (David Pareja) com uma não tão invulgar questão.
Os dois realizadores e argumentistas levam o espectador a uma interessante reflexão sobre os tempos modernos e o uso das novas tecnologias para todo o tipo de "eventos" que decorrem. Quando se tornou banal, ou até mesmo vulgar, recorrer às novas tecnologias para colocar marcas em eventos, pessoas e lugares para avisar toda uma rede de contactos - conhecidos ou não - sobre aquilo que fazemos, como e até onde, Una Cuestión de Etiqueta elabora a interessante questão sobre até onde irão os limites? Quando é que estes interferem com a dor ou a privacidade dos demais e até que ponto será "normal" fazer de um funeral um "evento" facebookiano?!
Com um sentido de humor controlado - mas corrosivo - que prende pela ironia contida, Álvaro Cervantes e David Pareja conferem ainda um interessante dilema ao questionar o espectador sobre até que ponto conhecemos o "outro" com quem convivemos e que pode ser o nosso pai, irmão ou amigo mais chegado. Até que ponto não existe uma dupla vivência sendo a realidade apresentada como aquilo que conhecemos e aquilo que é colocado numa qualquer rede social um mero vislumbre desse "todo" que conhecemos.
Mordaz e invulgar, Una Cuestión de Etiqueta tece a sua própria concepção das nossas regras sociais de educação e de comportamento nesta nova sociedade cibernética.
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8 / 10
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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Fehér Isten (2014)

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Deus Branco de Kornél Mundruczó é uma longa-metragem de ficção húngara vencedora da secção Un Certain Regard e da Palm Dog do Festival Internacional de Cinema de Cannes em 2014 com estreia marcada para este mês em Portugal.
Lili (Zsófia Psotta) tem treze anos e tem de passar uns dias em casa do pai. Ao mudar-se para a sua casa, Lili faz-se acompanhar de Hagen, o cão que recolheu e que nem o pai nem a vizinhança do prédio estão preparados para ter por perto.
Quando Dániel (Sándor Zsótér) decide que a filha tem de livrar-se do cão, estava longe de imaginar as consequências que a sua decisão iria desencadear.
"Tudo o que é terrível necessita do nosso amor". É com esta frase de Rainer Maria Rilke que Fehér Isten se inicia pressupondo que o espectador está perante uma história onde a maldade - do cão - será uma eventualidade no decorrer desta história. No entanto, aquilo que o espectador se irá questionar é se este é realmente a fonte desse tal "mal" ou se, por sua vez, aquele que é dotado da capacidade de o ter não será, na realidade, o animal Homem.
Muncdruczó em colaboração com Viktória Petrányi e Kata Wéber escrevem assim um argumento não só repleto de uma simbologia própria de uma história de (des)evolução do Homem e do Animal como também uma que está consciente de que esta mudança apenas poderá original um caos que é, de certa forma, premeditado e onde poucos são os elementos que podem evitar uma catástrofe maior.
As relações humanas aqui retratadas são, elas próprias, desumanizadas. Uma mãe distante da relação que mantém com a sua agora adolescente filha e que prefere dedicar-se a uma nova relação deixando-a para trás com um pai ausente. Uma jovem inadaptada socialmente de um conjunto de colegas de escola (de música) que apenas vêem nela a "miúda" com quem têm aulas e que querem distante dos demais eventos sociais em que participam. Jovem esta que, por sua vez, tem apenas em "Hagen" - o cão - o único fiel e dedicado amigo mas que se vê forçada a abandonar por um pai que não quer pagar multas pela sua posse. A vizinha - numa clara representação de todo um conjunto de outros seres - que por maldade e desdém denúncia uma agressão animal que nunca ocorreu e finalmente a única grande dinâmica estabelecida entre pai e filha é o presente abandono de "Hagen" que ela não soube ou conseguiu defender por ser uma voz não escutada.
Pelo caminho temos uma história de amadurecimento de "Lili" e a falta dele por parte dos adultos que se tornam pessoas secas, desacreditadas e desinteressantes mas que se afirmam conhecedores e donos de uma razão inexistente. Desacreditados ou até mesmo desiludidos com as suas vidas ocas e desinteressantes - qual autómatos parecem - todos eles se vêem impôr uma razão e uma certeza que apenas colmata as suas dificuldades de aceitação para com a vida que têm. Destroem (in)voluntariamente todos os pequenos sinais de humanização e dedicação que presenciam de "Lili" e como resultado de uma sua falta de admissão ela é - para eles - um elemento inadaptado e à margem dos seus parâmetros.
"Como pode um professor falar sobre o amor quando não tem coração", pergunta "Lili" ao seu professor de música percebendo que a sua desumanização para com as carências de um animal desprotegido que prefere ver fora da sua aula ao invés de o auxiliar e proteger de uma rua onde poderá encontrar a morte certa. Num perfeito ensaio sobre a desumanização, Fehér Isten relata-nos então a história da relação entre o Homem - "Lili" - e o Animal - "Hagen" - que encontram o conforto e a traição em si próprios. O primeiro com a proximidade natural que os une e a segunda com a separação a que se vêem forçados. Numa evidente semelhança, tanto "Lili" como "Hagen" encontram em si próprios o único espaço seguro que têm... Ela ausente de uma relação familiar estável, de amigos ou até mesmo de um ambiente escolar perfeito e ele um animal abandonado fruto das indiferenças de uma sociedade que aparenta apenas querer perfeição, vêem na sua amizade o único conforto que possuem e que é abalado com a sua separação e com os percursos injustos e socialmente violentos a que são sujeitos. Poderá então o amor de "Lili" salvar um destruído "Hagen"? Esta é assim a pergunta que mantém o espectador em suspenso até ao último instante.
A segunda metade de Fehér Isten entra deliberadamente no campo do imaginário, de uma vingança (justa) contra o mal voluntário que "Hagen" decide a certo momento fazer aplicar. Sendo visados todos aqueles que atentaram contra a sua segurança, este animal lidera uma matilha que percorre as ruas da cidade sem dó nem piedade para com aqueles que o maltrataram e levaram a uma vida desumana - interessante esta escolha de palavra - e pretende fazer a sua própria limpeza "racial" numa verdadeira luta de Homem vs. Animal.
Toda a simbologia encontra a sua exaltação máxima a partir deste momento em que "Hagen" parece dotado de uma personalidade forte e justiceira mas, ao mesmo tempo, vingativa e sem perdão, pensada como se dotado de uma consciência e de um padrão de moral e valores. Simbologia essa que é levada ao extremo com a solução encontrada por "Lili" e a sua própria exaltação do conto dos Irmãos Grimm do Flaustista de Hamelin que transporta os ratos para fora de uma cidade infestada hipnotizando-os com o som da sua música, e que aqui se aplica à sedução também ela musical feita para "Hagen" que reconhece finalmente o único amor que alguma vez possuiu - o do "Lili".
Curiosa é ainda a reacção final da jovem que num acto de perdão e penitência católicos se deita do chão frente aos cães perseguidos e maltratados e que nos poderá fazer igualmente pensar sobre os conflitos existentes numa sociedade húngara actual onde muitos comportamentos que vitimiza uma população desprotegida e socialmente frágil às mãos dos demais que aparentam ter um medo irracional daqueles que pouco têm - o mesmo medo que é aqui expresso para com os cães que percorrem as ruas à procura do seu espaço e da sua justiça.
No final dois sentidos pensamentos: o primeiro prende-se com a possível existência de uma paz - espiritual e social - entre vítima e agressor. Será ela possível depois de um conjunto de maus tratos que dificilmente se esquecerão? O segundo pensamento será sobre quem é o verdadeiro selvagem... Aqueles que denotam comportamentos violentos ou os demais que os atormentaram ao ponto de ser esta a única solução possível no seu conjunto de comportamentos sociais?
Ainda que a jovem Zsófia Psotta tenha uma interpretação forte e sólida, é no entanto o actor-cão - vencedor da Palm Dog em Cannes - que dinamiza a atenção do espectador levando-o a querer acompanhar todos os seus momentos e tormentos, percebendo assim aquilo que o "fez" tal como se apresenta, e dinâmicos são ainda a música original de Asher Goldschmidt e a direcção de fotografia de Marcell Rév que conferem às ruas de Budapeste um lado sombrio apenas reconhecido em épocas mais conturbadas da História.
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8 / 10
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domingo, 17 de maio de 2015

Mapa de Recuerdos de Madrid (2014)

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Mapa de Recuerdos de Madrid de Daniel Ramírez é uma longa-metragem espanhola que une o estilo documental e a ficção para aquela que é uma sentida homenagem à cidade de Madrid e uma das três longas-metragens seleccionadas para a categoria de Puesta de Largo da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu na Cantábria, em Espanha até ao passado dia 9 de Maio.
Uma cidade é formada por ruas e praças, parques e edifícios mas acima disso aquilo que confere a sua História são as pessoas e as suas histórias, experiências e vivências. É com base nesta premissa que se constrói esta ambiciosa longa-metragem editada a partir do documentário homónimo onde um conjunto de conhecidas caras do meio artístico espanhol dão cor e vida às histórias de muitos daqueles que compõem as cores madrilenas.
Mapa de Recuerdos de Madrid iniciou a sua viagem através de um pedido a todos aqueles que quisessem contribuir com as suas histórias pessoais de quando chegaram à cidade de Madrid, aquilo que lá viveram, quem conheceram e essencialmente de que forma a cidade e a sua estada os haviam marcado. Desde pedido que recolheu milhares de testemunhos foi elaborado o documentário de onde saiu o filme - este que aqui comento - com um conjunto de dez segmentos/histórias aqui interpretados por um conjunto de actores que lhes conferem a sua comédia, drama e no fundo que compõem a memória desses anónimos que resolveram participar.
Desde I'm Free com um desencanto amoroso a Happy Day onde as primeiras memórias da cidade para uma mulher são aquelas de alguém sentado ao seu lado num restaurante que sem dinheiro para comer tentou ficar com os restos de alguém. De Duelo em Mendéz Álvaro onde uma mulher fala sobre os seus problemas pessoais enquanto observa os outros fora do táxi em que se encontra e os compara a touros à procura de um transporte ou Él Era Así onde se confidencia como alguém nunca foi ao hospital ver um amigo ou familiar doente com medo de o encarar numa fase tão complicada da sua vida. De El Sur, 1982 onde se tecem comparações sobre uma vitória eleitoral à vivência numa discoteca a Ángel ou Demónio e se equaciona a dualidade do ser. De Un Ángel en un Retiro sobre as confissões de uma mulher sobre David um tipo forte e elegante de quem gostava e que se ri dela deixando-a com um desgosto amoroso a El Banco de Bravo Murillo e um banco onde todos se sentam para descansar ou Los Tejadros de Madrid sobre o tal encontro sexual que a deixou absolutamente radiante mas do qual se lembra apenas ter recordado os telhados da cidade.
E finalmente Diez Años Ya, aquele que será um dos - senão o - momentos mais emotivos de toda esta longa-metragem e que nos leva ao ido ano de 2004 quando a 11 de Março ocorreu o atentado bombista em Madrid que vitimou dezenas de pessoas. Num relato profundamente emotivo permanecem as memória de um encontro de amigos no terminal de comboios... Alguns seguem viagem e um fica para trás, recordando que depois teve de ir identificar os cadáveres dos seus amigos e que enquanto os seus nomes irão figurar na placa em memória das vítimas não sabe se o seu nome alguma vez lá irá constar. Este relato sentido e aquele que consegue levar o espectador a ter um frio no estômago pela força que as palavras têm consegue por si tornar toda esta história essencialmente de memórias, num registo doloroso e avassalador - brilhante a entoação e o registo dramático de Ramiro Melgar - talvez o mais forte de todo o filme.
Sem uma aparente ligação entre os vários segmentos, pois afinal estamos a observar as diversas memórias e experiências de pessoas singulares - aqui estão reflectidas todo um conjunto de confissões que nunca se conseguiram ter com ninguém. Desabafos sobre o "eu" e sobre a solidão, sobre a alegria e tristeza mas sobretudo sobre a mágoa, a perda, a dor e a morte. Sobre aquilo que ficou por dizer por medo, por vergonha ou falta de coragem. Sobre os traumas que o passado deixou, sobre as feridas que nunca se irão sarar e sobre aquilo que nunca se poderá - ou irá - dizer ao "outro".
Desta forma e sem qualquer artifício ou efeito especial, o espectador encontra-se literalmente do outro lado da câmara a escutar aquilo que foi proferido por dezenas de pessoas anónimas. Pessoas com histórias por contar... com receios que precisavam ser expiados e momentos que precisavam ser verbalizados por alguém que não elas... Alguém que as compreendesse sem julgar e que dessa forma pudessem confessar sem penitência aquilo que há anos os atormentava. É então aqui que reside o poder de Mapa de Recuerdos de Madrid e que Daniel Ramírez e um excelente batalhão de argumentistas sobre expôr de forma íntima e pessoal como se as histórias "deles" fossem as "nossas" criando a aproximação necessária para que este filme conseguisse chegar ao público seu espectador.
Acompanhados apenas pela presença e voz dos actores que dão vida a estas confissões, o espectador desliga-se - literalmente - de tudo o que está ao seu redor... cenário incluído que, na prática, não existe. Estamos ali frente a frente com alguém que decidiu contar uma história; a sua história. Partilhar todos os medos ou alegrias que o acompanham repletos - todos eles - de uma sentida mágoa que apenas se dissipa pela partilha conseguida da mesma.
Ficarmos sentados a escutar as histórias de outras pessoas poderia ser à partida uma aventura difícil de conquistar um público ou um espaço próprio principalmente se pensarmos que ao ver este filme estaremos numa sala escura frente a um ecrã do qual pouco se destaca para lá do próprio escuro. No entanto, ao fazê-lo, imaginamo-nos como alguém disposto a escutar a história de alguém que finalmente ganhou coragem para a libertar - para se libertar - e que, como tal, merece toda a atenção daquele que se dispõe a estar presente em tão importante momento.
Para lá de uma aposta ganha sobre o relato de tais experiências, Mapa de Recuerdos de Madrid é uma sentida - e devida - homenagem a uma magnífica cidade tida como repleta de vida mas que se esquece - por vezes - de mostrar o seu lado saudoso, sentido e introspecto aqui tão bem conseguido.
Um bravo ao realizador Daniel Ramírez por esta pequena grande pérola - o documentário na íntegra são mais de trezentos minutos - e outro a todos aqueles que tiveram vontade e coragem em contar a história... sua e da cidade de Madrid.
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"Todo en esta vida pasa... el dolor también..."
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10 / 10
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