sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Insónia (2015)

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Insónia de Bernardo Lima é uma curta-metragem de ficção portuguesa e uma das dez nomeadas ao Prémio MOV MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror desta nona edição do MOTELx a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Quando um homem solitário (Nuno Pardal) vagueia as noites tentando ignorar o vazio da sua vida, encontra todo o tipo de situações que o fazem desesperar silenciosamente. Num desses giros encontra uma mulher (Mafalda Lencastre) que, espancada por outro homem (Diogo Lima), recolhe a sua simpatia e a protege. No entanto, é quando ele decide intervir que toda a sua vida é arrastada para uma existência de violência e dor.
Num argumento também da autoria do realizador Bernardo Lima, o espectador entra numa silenciosa viagem pelo desespero de um homem - Nuno Pardal - perdido em pensamentos ocultos mas que vão todos evidenciar o seu pesado legado e existência de solidão e eventual inadaptação. Se por um lado percebemos que este homem aparentemente desgastado não tem qualquer tipo de ligação ou relação com outras pessoas - afinal todo a sua existência parece condenada a vaguear pela noite em locais mais ou menos duvidosos -, não é menos verdade que também denota alguma inadaptação visto que a única pessoa com quem aparenta tentar estabelecer uma relação é uma prostituta que encontra na rua e pela qual parece desenvolver alguma empatia quando a observa a ser espancada por outro homem.
É nesta dinâmica de apenas procurar aqueles que se encontram em situações mais desfavoráveis que a sua - resultado de uma noite mal dormida ou de, como o título indica, nem sequer conseguir dormir - este homem transforma-se num errante sem destino, sem propósitos ou sem vida cuja alma está condenada a uma aparente e eterna viagem pelo silêncio apenas granjeado pela noite e pela indiferença que aqueles que também a povoam lhe conseguem conferir.
Se a sua vida poderá estar marcada pela violência do esquecimento, não é menos verdade que o próprio cai na teia da violência física quando a sua inadaptação em lidar com os outros o torna na sua vítima mais directa. De solitário por opção (?) a vítima da socialização, este homem perde-se num meio caminho de onde não conseguirá sair sem ser violentamente afectado.
Nuno Pardal - que felizmente começa a aparecer cada vez com mais frequência nas mais diversas produções cinematográficas - confere à sua personagem uma alma - perdida - na solidão da vida, da noite e de objectivos encontrando apenas numa outra alma perdida - Mafalda Lencastre - a possibilidade de estabelecer uma união - que não será concretizada - que, no entanto, será a sua ruína.
Interessante pela abordagem que estabelece uma íntima relação entre a solidão e o terror - pouco explorada mas uma tão grande verdade - Bernardo Lima consegue colocar a fasquia desse mesmo terror num "algo" vazio e invisível que corrói a mente e a esperança do Homem de forma eficaz e sistemática sem que o mesmo se aperceba. É, no entanto, também graças ao desespero da procura do "outro" que este terror se faz notar confirmando assim que a solidão estabelece um limbo, ou até mesmo um purgatório, de onde a eventual "saída" se torna impossível como uma "insónia" que insiste em desgastar pelo desespero.
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7 / 10
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