terça-feira, 15 de setembro de 2015

Ukhilavi Sivrtseebi (2014)

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Ukhilavi Sivrtseebi de Dea Kulumbegashvili é uma curta-metragem de ficção geórgia já nomeada à Palma de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Cannes na sua respectiva categoria.
Ela (Nino Shengelaia) pretende tirar um curso de contabilidade e assim conseguir mais rendimento para a sua casa. Mas, no seio de uma família tradicional onde o marido e homem religioso (Rati Oneli) ainda impõe as regras ditadas por uma sociedade masculinizada e onde a religião dita muitas leis.
Tudo tem o seu lugar... incluindo a mulher.
O argumento de Ukhilavi Sivrtseebi também da autoria de Dea Kulumbegashvili lança um olhar fortemente melancólico que desarma pela perspectiva de uma sociedade onde a mulher se encontra como um mero "instrumento" secundário sem poder de escolha ou decisão. Tal como o título desta curta-metragem refere, a mulher é aqui o "espaço invisível" que estando presente em todos os momentos das lides domésticas, da educação da filha e até enquanto mulher não toma, no entanto, papel activo nas decisões que são tomadas dentro do lar remetendo-se como um mero utensílio que obedece e pratica aquilo para que é ordenada.
É este ritmo de frustração a que é sujeita que a leva a lançar-se - também ela - enquanto elemento de poder sobre a única coisa que consegue - no silêncio - controlar, ou seja, "Mariam" (Mariam Dzidzikashvili), a sua filha. No entanto, não é menos verdade afirmar que é quando exerce esta força e este poder sobre a mesma - naquele que é possivelmente o momento mais emocionante desta curta-metragem enquanto ensaia com a sua filha - que esta mulher percebe que está indirectamente a exercer o mesmo tipo de acção que é exercido sobre ela. Ou seja, se por um lado se sente frustrado com a acção dominadora do seu marido que a impossibilita de fazer o que quer limitando assim as suas liberdades e poder de escolha, não é menos verdade que faz o mesmo com "Miriam" tornando a sua inocência e jovialidade de serem vividas com a alegria e a juventude de uma criança.
Ukhilavi Sivrtseebi torna-se assim num relato sobre a prisão. Mas não uma prisão qualquer. É um relato sobre a prisão exercida no espaço de maior conforto de qualquer um de nós... o nosso lar. O mesmo onde se devem viver e experimentar todas as liberdades que contribuem não só para um saudável amadurecimento e educação mas também aquele onde nos são dadas forças e confiança para um dia mais tarde poder ser enfrentado todo um mundo diferente que de si já têm - para connosco - as suas limitações instauradas.
Assim, aquilo que Ukhilavi Sivrtseebi pretende é entregar ao espectador um olhar sobre a forma como em certas sociedades o patriarcado se perpetua de forma assustadora e onde a modernidade chega sob um manto diferente. Tecnicamente todos parecemos ter as mesmas oportunidades, meios e liberdades mas na prática quando observamos certos lugares ou comunidades percebemos que o tempo avançou mas que não foi acompanhado pelas mentes daqueles que as compõem. Lugares esses onde as regras se definem de forma diferente, com hierarquias e rostos que controlam silenciosamente o poder que têm e lhes é conferido, excluindo o seu acesso aos demais esperando que todos se mantenham tranquilos e sem o questionar. Aos poucos os espaços deixam de ser tão invisíveis e a globalização, que tudo aproxima, permite o conhecimento e a informação que, como resultado último, deixam uma simples e pequena questão... "até quando?". Até quando se continuará a viver com uma sociedade hierarquizada com papéis supostamente definidos e com o poder de "um" sobre o "outro" tornando este último numa imagem distorcida e quase imperceptível?
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9 / 10
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