segunda-feira, 11 de abril de 2016

Baisers Volés (1968)

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Beijos Roubados de François Truffaut é uma longa-metragem francesa do icónico realizador e que acompanha a história de Antoine Doinel (Jean-Pierre  Léaud), um jovem rebelde expulso do exército pelo seu comportamento, e que aqui regressa à sua vida "normal", o reencontro com Christine (Claude Jaude) a rapariga por quem estava apaixonado, bem como as suas mais variadas peripécias nos seus trabalhos enquanto porteiro, detective privado e enquanto vendedor numa sapataria - trabalho este que serve enquanto disfarce para investigar Madame Tabard numa encomenda do seu marido Georges (Michael Lonsdale).
Nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e vencedor do Prémio Louis Delluc como Filme Francês do Ano, Baisers Volés inicia um percurso interessante enquanto relato das aventuras e desventuras amorosas do jovem "Antoine" que desde cedo faz denotar a sua verve irresponsável e muito descontraída enquanto um "filho da guerra" numa época em que todas as convulsões sociais e protocolares se faziam abater sobre uma Europa ainda há procura do seu próprio espaço.
É esta procura de um lugar próprio que aliada a uma irresponsabilidade - ou até mesmo aversão - à ordem que aqui tão bem caracteriza o "Antoine" de Léaud e, de certa forma, toda uma geração, que está patente ao longo de todo este filme. Se por um lado "Antoine" mostra ser aquele jovem sedento de algo que o caracterize ou complemente - tanto profissional como sentimentalmente - não deixa também de ser esta procura que o deixa instável e numa constante busca de algo que o próprio não sabe identificar. Os seus trabalhos medianos e inconsequentes que mais não são do que um método mais ou menos eficaz para se manter ocupado, revelam um pouco do mal geral sentido na sociedade, ou seja, uma eterna infantilização dos adultos que se recusam a crescer e, como tal, vivem eternos jogos sentimentais de conquista e posse face ao seu parceiro. Nesta dinâmica inconsequente de momentos de fantasia e encantamento, de romance oscilantes entre o estável e o incerto, "Antoine" mantém-se numa busca pessoal de uma felicidade que o próprio desconhece a forma.
Pelo meio de várias inconsequente peripécias amorosas repletas de encontros e alguns desencontros e vidas que são, na sua essência, fruto de uma sociedade em franca transformação, as incertezas e irresponsabilidades de "Antoine" começam a ser tidas pelo espectador tão banais e coerentes como as das demais personagens que se amontoam num percurso de incertezas morais e sentimentais e não melhor resolvidos do que o jovem que procura as suas próprias respostas.
Com algum humor - muito característico da época - e um conjunto de peculiares personagens que parecem viver perdidos num mundo muito próprio hesitantes de transpôr uma fronteira que os mesmos criaram e que faz deles receptores de uma infantilidade muito peculiar, Baisers Volés acaba por ser uma interessante reflexão sobre o efeito do amor - ou da paixão - e da dedicação - ou da entrega - naqueles que vivem de coração aberto para que o mesmo lhes bata à porta e que anuncie que veio para ficar.
Truffaut homenageia as não tão simples histórias de amor... Obsessivo mas dedicado, incerto e inconstante mas sentido. As pequenas histórias que transformam as suas personagens adultas de idade em crianças nos breves momentos em que o sentimento se abate sobre os seus corações. Perdidos quando ele não se manifesta e com todo um conjunto de propósitos e objectivos quando o sentem, todos transformando em infantis crianças perdidas num parque de diversões onde os seus comportamentos se deixam levar pela imaginação e felicidade que os inunda.
No entanto, é exactamente este último aspecto que me faz perder um pouco a dinâmica da sua história pois todos os personagens parecem, a determinada altura, perdidos numa qualquer obsessão amorosa não correspondida e, por sua vez, perdidos numa busca para um amor que não os quer. De adultos infantis a crianças algo caprichosas, Truffaut cria, no fundo, um mundo povoado por crianças "grandes" incertas do seu destino sentimental sabendo que ele existe... mas aparentemente indisponível. Não deixando de ter uma reflexão pensada sobre o amor e sobre os dias em que foi pensado, Baisers Volés não consegue manter uma dinâmica cativante a todo o momento deixando-se levar pelos caminhos da incerteza e de uma imaginação "infantil" e por vezes pouco coerente... querendo esta coerência dizer o que queira quando são assuntos do coração que estão a ser "discutidos".
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5 / 10
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