segunda-feira, 2 de maio de 2016

Atopia (2015)

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Atopia de Luís Azevedo e Alexandre Marinho é um documentário em formato de curta-metragem português exibido no âmbito do Shortcutz Viseu e um dos nomeados ao Sophia da Academia Portuguesa de Cinema na respectiva categoria.
José António Baptista partiu da sua terra rumo ao Porto para tentar encontrar um trabalho. Onze anos depois regressa com a intenção de se dedicar à literatura e a todo um processo criativo.
Nesta viagem - física e psicológica - o espectador encontra um indivíduo perdido entre dois mundos distintos. O primeiro aquele que é o seu mas do qual se afastou com propósitos maiores que ali não conseguirá encontrar. O segundo, a grande cidade - Porto - no qual iniciou toda uma tentativa de concretizar um sonho mas que, devido a condicionantes económicas, sociais e políticas, nunca concretizou. A dicotomia campo versus cidade - representando a primeira uma liberdade sem limites apenas equiparável ao próprio espaço físico onde o olhar vê o horizonte e a última um constante fronteira e limite criativo - é uma das componentes mais fortes de Atopia no qual não só acompanhamos o Homem como também a sua transformação intelectual que o colocam num patamar de incertezas e de solidão.
Este regresso ao campo, que por breves momentos parece um regresso não só impossível como improvável, conferem através das palavras de José António Baptista, um dos mais coerentes e sólidos pensamentos que uma qualquer vida poderia transmitir quando compara duas distintas "estruturas" e o seu contributo para o meio. Por um lado - diz - temos uma casa que, uma vez edificada, necessita ser habitada ou morre pela sua degradação. No entanto, uma outra estrutura como o é a árvore, apenas consegue o seu desenvolvimento quando abandonada. A natureza encontra o seu caminho que dificilmente será travado como fruto de uma renovação e regeneração natural do espaço. Assim o é a criatividade. Sem limites e barreiras e usufruindo apenas do descanso mental daquele que a ela se propõe alcança o (im)possível deixando o seu próprio contributo para o mundo. No entanto, quando condicionada por elementos externos... limita-se ao banal e ao expectável.
Com algumas interessantes reflexões sobre a criatividade e seu respectivo processo que podem facilmente ser equiparadas à vida e ao (seu) percurso que leva, Atopia deixa num certo lume brando os destinos deste homem - e do próprio documentário - que, por momentos, parece estar perdido entre dois mundos... aquele no qual a sua criatividade e obra podem ser concretizadas fisicamente... e aquele que o ajudou a despoletar materialmente o mesmo.
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6 / 10
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