quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Câmara Nova (2017)

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Câmara Nova de André Marques é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na secção competitiva da vigésima-terceira edição do Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra até ao próximo dia 3 de Dezembro.
Rafa (André Marques) prepara a câmara para gravar quando Rui (Eduardo Breda) e Ana (Tânia Figueiras Ribeiro) chegam. Mas ao entrar no carro, Rafa depara-se com uma surpresa...
O que acontece quando um momento fica registado para sempre? O que será daquele que o regista? E, finalmente, o que acontece a todos aqueles que lhe sobrevivem? André Marques deixa no ar estas três questões depois do espectador assistir à sua mais recente curta-metragem que, num único plano sequência, filma um instante na vida destas três personagens às quais dá vida - uma delas literalmente - concentrando algum drama, uma perda e uma incerteza num breve período de nove minutos.
O momento inicial de Câmara Nova poderia representar um qualquer momento de terror ou até mesmo mistério sobrenatural pelo cenário escolhido para dar início a esta história. Aliás, a primeira interacção entre os actores até o fazia adivinhar não fosse a imediata resposta e interacção que se faz sentir. No entanto, aquilo que Câmara Nova apresenta é uma breve história de perda sem qualquer redenção que afasta definitivamente um grupo de amigos e um potencial par romântico que para lá da despedida emotiva... nunca o chega a ser.
De uma discussão à tentativa de reconciliação que avança e retrocede pela compreensão de que o futuro termina ali, Câmara Nova concentra-se mais no observador participante - inesperado realizador e câmara - e na sua acção do que propriamente no ex-par (eventualmente) romântico que ali frente ao registo para a posteridade se deixa levar pela discussão, pela separação e pelo acto de paixão que não se voltará a repetir. Tendo como único e possível destino a incerteza de um caminho não percorrido fica a imagem - o seu registo - como a prova final de que ambos existiram... Mas, afinal, qual o lugar do realizador nesta história da qual é - e não é - directo interveniente?
Com a potencial pergunta que permanece no ar e uma vontade do espectador em conhecer qual o destino daquele caminho final - afinal, que sítio tão invulgar para um grupo de amigos se encontrar! - Câmara Nova é portanto um ensaio sobre o papel do realizador na obra considerando que ele é (aqui) uma sua personagem directamente envolvida na trama que regista.
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7 / 10
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