sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ética (2016)

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Ética de Román Reyes é uma curta-metragem espanhola de ficção que revela a história de Manu (Reyes), um homem que um dia decide seguir o seu verdadeiro "eu" como Elisa. Num mundo que não está preparado para aceitar e respeitar a diferença, conseguirá Elisa viver de bem com a sua consciência e com os seus sentimentos?
Reyes interpreta, produz, realiza e escreveu o argumento desta história que se debate com um tema quase universal... estará a sociedade como um todo capaz de aceitar a diferença e a individualidade de qualquer um de nós? A resposta, para lá de complexa, quase sempre é dada com um não inicial. No entanto, existe todo um mundo capaz de ser explorado e debatido por detrás do mesmo começando este, desde o primeiro instante, com o elemento mais importante de todos... estará este "eu" capaz de se respeitar a si próprio?
Num mundo formatado e normalizado a compreender apenas os papéis sociais que lhe foram incutidos por séculos de conceitos já estabelecidos e formados como "normais", a luta interior de "Manu" começa quando o próprio compreende a sua diferença dessa sociedade exterior não se enquadrando naquilo que a mesma "escolheu" por ele. Assim, o primeiro passo que este dá para uma total aceitação começa quando o próprio se aceita tal como na realidade se sente e vê... uma mulher. Partindo deste pressuposto começa então a segunda vida - e a única que é essencialmente verdadeira - de "Manu" mas, desta vez, como "Elisa".
"Elisa" é uma mulher proveniente de um ambiente ultra-conservador onde os valores ditos morais se confundem muito rapidamente com um extremismo ideológico latente na pessoa do seu irmão "Adrián" (também interpretado por Reyes) e pelos símbolos políticos e partidários que o mesmo exibe bem como no seu discurso claramente fruto dessa mesma educação - familiar e social - que o aproximam da xenofobia, homofobia ou transfobia. No fundo, para este "Adrián" tudo o que escape à sua noção como "normal" é automaticamente alvo das suas violentas investidas e processado como algo a abater. Assim, e da auto-aceitação a uma desejada aceitação social, "Elisa" embarca naquela que é provavelmente a sua luta mais difícil mas não comparável àquele sentida quando o seu corpo e a sua mente colidiam - também elas - violentamente levando a que o cérebro não registasse a mesma imagem que os seus olhos lhe transmitiam.
Com uma banda sonora que aproxima o espectador de um Laurence Anyways, de Xavier Dolan logo nos instantes iniciais, este Ética tenta portanto celebrar para lá daquela aceitação ou compreensão social, a luta do "eu" sobre a imagem que tem incutida desde jovem idade para com a representação de género que, na realidade, sente como sendo a sua verdadeira. Assim, e considerando todas as barreiras sociais e familiares que persistem na vida do indivíduo - "Elisa" -, o espectador observa não só a sua luta interna como principalmente aquela tida para com todos os elementos exteriores, nomeadamente a família, que deveria ser indiscutivelmente o elo ou grupo primário e de principal apoio para com ela.
Ainda que executada com algumas fragilidades técnicas nomeadamente na captação de som ou dos ângulos captados que a execução de one man show lhe impõe - afinal tudo recai nas mãos do realizador/actor -, Román Reyes consegue, no entanto, incutir a esta sua obra um cunho de relevância social francamente importante na medida em que tenta, pelos seus próprios meios, trazer à sétima arte mais um registo de um tema tido como polémico mas que, na realidade, apenas se centra na mais básica de todas as premissas... o direito de cada um de nós se exprimir e sentir livremente... tal como se sente.
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7 / 10
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