sexta-feira, 27 de abril de 2018

Self Destructive Boys (2018)

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Self Destructive Boys de André Santos e Marco Leão é uma curta-metragem portuguesa de ficção da dupla de realizadores de Aula de Condução (2015) e Pedro (2016) presente na Competição Oficial da décima-quinta edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente que decorre até ao próximo dia 6 de Maio em várias salas da cidade.
António (Miguel Cunha) Xavier (João Veloso) e Miguel (João Mota) são três jovens adultos na casa dos vinte anos com vidas banais e alguma necessidade de dinheiro. Cada um proveniente de um meio diferente optam por participar em filmes de pornografia homossexual. Se para uns é apenas mais uma forma de trabalho e para outros um teste à sua masculinidade, a realidade é que esta decisão modifica as suas noções sobre as suas próprias certezas.
Depois do drama hiper sexualizado Pedro (2016), a dupla André Santos e Marco Leão, também autores do argumento, regressa com uma história onde a sexualidade está novamente no centro da história mas aqui com doses de um humor descontraído que ameniza todas as grandes questões desta curta-metragem. Se em Pedro encontrávamos um jovem centrado nas suas escapadelas para alguns encontros homossexuais anónimos mantendo assim toda a sua imagem social "incólume", em Self Destructive Boys o trio de jovens reúne-se para aquilo que será a escapatória de uma vida ou sem dinheiro ou sem nada mais para fazer. Se os dois realizadores do porno gay - Victor Gonçalves e Nuno Nolasco - revelam desde cedo que o seu trabalho mais parece auto-satisfatório e uma forma de poder admirar os corpos despidos de jovens adultos a troco de algum dinheiro (sendo a sua própria parte - como cedo é revelado - bem compensatória para ambos), é no trio que encontramos algumas disparidades nas suas intenções. "António" e "Xavier" são a dupla descontraída... O primeiro encontrou a forma de ganhar algum dinheiro extra e o segundo uma forma de preencher os seus tempos mortos - sem esquecer o bom humor que em tudo coloca e, sexualidade à parte (até aqui), é na postura de "Miguel" que encontramos a maior incerteza, reticência e até mesmo um certo prazer escondido e por revelar para quem apenas ali estava para encontrar mais alguns "trocos" para comprar uma mota nova.
Mas... será só isso? Se os dois primeiros parecem algo despreocupados com o que estão predispostos a fazer e encaram tudo como "apenas mais um trabalho", é "Miguel" que se revela preocupado e temeroso sobre as consequências que podem surgir dali para o seu futuro. Afirmativo quanto às suas intenções monetárias e não sexuais, "Miguel" cedo se mostra um pouco mais entusiasmado com os seus propósitos, fugindo para não ter de enfrentar(-se?) as consequências de um aparente ou possível prazer e estímulo sexual.
Tudo num constante tom de humor, ainda que "realizadores" e "Miguel" sejam o centro mais sério deste enredo, é na dupla interpretada por Miguel Cunha e João Veloso que encontramos os desempenhos mais carismáticos desta história. "Habitués" actores - neste filme - de cinema porno gay, a descontracção entregue às suas personagens que tudo encaram como mais um "trabalhinho" que fazem para passar as horas mortas é desarmante transformando toda aquela dinâmica de uma história pseudo-dramática sobre os contornos nem sempre certos ou sérios de um conjunto de jovens adultos em busca de dinheiro, num hilariante e descontraído momento de tranquilidade de alguém que... tão depressa está prestes a fazer um filme pornográfico como, de repente, equacionam sobre onde podem ir comer um hamburguer num segmento de total banalidade cómica entre dois amigos que talvez até nem o sejam mas que se conhecem - literalmente - como se o fossem.
Descontraído e dotado de muito humor, este Self Destructive Boys revela um lado mais humorístico sobre a sexualidade explorada de forma mais séria e dramática pela dupla Santos e Leão em Pedro, conferindo às suas personagens uma ligeireza icónica revelando, ao mesmo tempo, um João Veloso como um jovem e interessante talento em ter em conta nos próximos anos sem esquecer de fazer com que o próprio espectador esqueça os supostos limites da sexualidade existentes entre três jovens adultos que, em toda a (sua) consciência, estão prestes a desafiar os seus próprios limites (se é que alguns), dar corpo aos seus desejos e vontades mas, sobretudo, perceber até onde é que estão dispostos a ir sem que a sua mente encontre os tais bloqueios que a sociedade poderá - em tempos - lhes ter colocado.
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8 / 10
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